domingo, 2 de julho de 2023

Descontrole na madrugada

Agora eles marcam exames de madrugada e meu filho tinha um de sexta para sábado. Fui junto e o atendimento foi rápido (é a vantagem), mas o exame demorado, esperei por cerca de uma hora. Sala quase vazia, mente preparada, poltronas confortáveis, xadrez no celular, tudo para ser tranquilo. Mas uma coisa me incomodava. Muito.

A sala tinha uma TV e, embora seu som estivesse baixo, naquele silêncio não dava para não escutar. Ainda mais porque gritinhos, risadas escandalosas, choros canastrões e coisas do tipo vinham de lá a cada fração de minuto. Justamente nisso eles falharam, a porcaria estava sintonizada na Globo.

Insuportável! Primeiro, Pedro Bial com "a" Pablo Vittar. Com direito, como de praxe nesses programas, a encerramento com uma mostra do talento musical da figura e bitoquinha boca a boca para o entrevistador mostrar que não é preconceituoso. O final eu vi, pensando comigo que não podia piorar.

Que nada. Mal o programa terminou entrou uma moça chorando, berrando que havia sido abusada, aquele homem acabara com a vida dela... pense num enredo previsível e numa atriz ruim exagerando nos maneirismos das novelas da emissora. Mas não sei se era novela, parecia um tipo de Malhação, só com atores jovens.

Tinha o galã compreensivo, falando com uma batata na garganta. Tinha o policial bacana que faria tudo para colocar aquele pilantra na cadeia. Ambos bombadões, como agrada ao paladar dos diretores da casa. Tinha as amigas, todas tão barangas, chorosas e à beira de um ataque de nervos como a mocinha do dramalhão.

E tinha o que não podia faltar: o momento escolinha de costumes, aquele de passar a "mensagem" para o público a ser doutrinado. Num bom enredo essas coisas são inseridas com sutileza nos meandros da história. Na Globo atual é em tom professoral. No caso, em slogans colados uns aos outros durante uma reunião das amigas.

Esqueci de dizer, a mocinha era mulata. E devia ter uma amiga branca, é óbvio, mas nas olhadas que dei de relance só vi outras mulatas e uma negra. Assim, você já pode imaginar que a frase que abriu a aulinha foi algo como: "Nós, mulheres negras, que somos agredidas e abusadas nessa sociedade machista e racista."

(Tudo com sotaque ultracarioca: Nóix mulherix neigrax...)

Gritaria geral. Veio a próxima integrante do jogral e abriu a cartolina para ler com espontaneidade de segundo ano primário: "Gente, vocês viram que um estudo do DNA mostrou que nossa população descende de homens brancos, mas de mulheres negras e indígenas? Nós somos uma cultura baseada no estupro!"

Mais gritinhos de histérica concordância, estatísticas tipo "uma mulher negra é agredida a cada x minutos" e coisas do tipo. Uma bobajada barulhenta e mal feita.

E a caixinha do controle do cabo ali do lado, com aquele botãozinho que dá para subir ou baixar de canal. Já não tinha mais ninguém na sala, só uma jovem mãe que entrava e saía tentando nanar seu bebê. Estaria ela vendo aquilo? Fiquei em dúvida, mas assim que ela saiu de novo fui lá e coloquei no primeiro canal da sequência.

Era o pastor da Universal, cuja voz pareceu um bálsamo.

A mãe voltou com a criança. Sentou e passou a assistir.

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