sábado, 29 de julho de 2023

Cheias de amor

Não se assuste se você acordou com uma mulher berrando com a voz "do" Juninho Play, do antigo Zorra Total. Ninguém está atacando a vizinha, fique tranquilo. Deve ser só aquela narradora pavorosa que a Globo arrumou, pois neste momento o time de futebol feminino do Brasil está jogando contra a França em algum lugar.

Tem gente assistindo. E tem gente adorando. Gente como Milly Lacombe, lacradora do UOL que, dias atrás, listou os motivos pelos quais o futebol feminino é melhor que o masculino. Nível técnico? Táticas inovadoras? Não, não, nada dessas bobagens.

O primeiro motivo é que, apesar da mulher ser "o gênero associado a destemperos e histeria", as jogadoras não ficam reclamando das marcações, cercando a árbitra e coisa e tal. Na Europa os jogadores também se comportam assim, mas vamos em frente.

O segundo motivo é que quem leva uma bicanca não fica rolando pelo chão e berrando de mentirinha. É verdade, mas no jogo das crianças e na pelada dos veteranos também não tem disso, num chute recebido em câmera lenta não há como você fingir que foi atingido por um torpedo. A intensidade é um pré-requisito para a simulação.

O quarto motivo é que "as coletivas contêm respeito nas respostas". Bom, aqui eu já não sei onde ela viu diferença. Hoje em dia os jogadores mandam muito bem nas entrevistas. Deve haver inclusive treinamento para isso, pois até garotos da base mantêm o padrão.

O quinto motivo é que "o futebol é entendido como fenômeno social e as jogadoras não têm medo de se colocar a respeito de temas sensíveis como o da LGBTfobia". A Lacombe não entende que isso é espetacular pra gente como ela, mas apenas babaquice para quem gosta de futebol e não de lacração.

Faltou o terceiro motivo? Foi de propósito, vou copiá-lo na íntegra:

3. O amor está no ar: romances, amizades, carinho, afeto. Tem de tudo, e tem de sobra. Tem beijo na boca entre atletas, tem beijo na boca entre jogadora e namorada na arquibancada, tem abraço carinhoso entre rivais depois do jogo. A competição dura fica reduzida ao campo, como deve ser.

Observem que ela poderia ter sido inclusiva (hehe) e dito "namorado ou namorada". Mas não, disse apenas "namorada", tratando, desse modo, o futebol feminino como um departamento da sapatice em geral. E, de novo, ela pode achar isso lindo, mas, sendo bem sincero e falando pela imensa maioria...

1 - Eu vejo futebol pelo jogo, não tenho o mínimo interesse no "afeto" de ninguém.

2 - Se eu quiser ver mulher se pegando, entro num site ou vou no show de boate em que as duas são gatas, Stallone beijando John Wayne estou fora.

3 - Se a minha filha pedir para comprar uma chuteira, agora que eu não compro mesmo. Se a escola quiser obrigá-la a jogar futebol, eu vou lá reclamar.

4 - Na verdade, não vou nem ligar a TV nessa porcaria.

Quem vai? Quem estimulará a filha a frequentar esse ambiente sabendo o que rola por lá. E rola, a empregada de um amigo, jogadora amadora, um dia nos contava que, apesar dela dizer que seu negócio era outro, o clima era de intimação, estilo "e aí, gostosa, qual é?", os mais grosseirões pareciam delicados frente às amorosas de lá.

Claro que nem sempre etc. Mas tem isso. E tem o baixo nível técnico e a baixíssima intensidade. E a Globo ainda escala o Juninho Play pra narrar! Depois a lacradora não entende por que o esporte não conquista as multidões.


Para não enfeiar o sábado, a jogadora lá de cima é a croata Ana Maria Markovic.

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