sábado, 24 de junho de 2023

Russos na sauna gay

Manchetes, a melhor é do G1: "Grupo Wagner x Governo russo; entenda o que o desentendimento pode representar." "Desentendimento" não seria mais adequado a uma discussão entre condôminos? Os demais vão escolhendo as palavras: "levante", "rebelião", "motim". Isso, isso, mas falta uma.

Ah, o Estadão a usou. Mas com cuidado, pois palavras terríveis como esta não podem ser aplicadas gratuitamente: "Líder de grupo mercenário diz ter entrado com tropas em cidade russa em meio a acusação de golpe." Sim, "acusação", talvez seja um golpe, mas talvez não seja, não vamos nos precipitar.

De qualquer modo, alguém deve ter alertado a turma do jornalão, pois, no tempo em que eu sai da página deles para iniciar o post e voltei, o título foi jogado lá para o cantinho e substituído por um mais adequado: "Putin diz que rebelião armada é 'punhalada nas costas' e promete punir 'traidores'."

Está certo. "Golpe" é um termo forte que nós só devemos aplicar a casos verdadeiramente graves. Mas Putin que se cuide, parece que uma excursão de aposentadas está saindo neste momento de São Petersburgo em direção a Moscou. Se alguém abrir a porta do Kremlin e elas entrarem, aí sim será golpe.

Nossa imprensa virou mesmo o Wanderley do Casseta & Planeta, enrolado na toalha e tentando negar o que está à vista de todos. Agora, até os russos colocaram na sauna.

Tem chances?

Aquela coisa meio romântica de um grupinho que se revolta contra uma injustiça e vai vencendo tudo o que surge à sua frente parece coisa de filme de capa e espada ou de história passada num pequeno reino de antigamente. Num país grande, com os armamentos de hoje em dia, isso não aconteceria.

Bem, o Yevgeny Prigozhin, líder do Wagner que entende mais de guerra que qualquer um de nós, está apostando no contrário. E não dá para a gente saber o que passa pela sua cabeça, mas dá para imaginar algumas coisas.

A guerra é impopular, Putin é impopular. Torcer por ele, que é russo, não é traição. Ele se movimenta entre civis, de maneira que não dá para arrasar tudo à sua volta. Nas lutas homem a homem que a situação propicia, os garotos recrutados para a guerra sabem que não têm chance contra as suas tropas e acreditam quando ele diz que nada lhes acontecerá se não reagirem.

E assim ele vai indo. Pode ser que acabe se ferrando, é evidente. Mas, se não o liquidarem logo, também é possível que seu exemplo acabe inspirando mais uma revolta ali, depois outra acolá...

É de uma hora para outra, como sabe toda velhinha golpista, que a maionese desanda. Não é impossível que o atual desentendimento (ou motim rebelião, levante) acabe evoluindo e se tornando outra coisa. Talvez até um golpe!

Fica a dica.

Dica para o Putin ficar esperto, claro.


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