Democracia até demais. O blog é tão democrático que atende até os que não fizeram o mínimo necessário para impedir que os inimigos da dita-cuja chegassem ao poder, um dos quais ontem nos solicitou que repetíssemos a declaração, dada pelo presidente do PL, de que Moro e Dallagnol pagariam o preço por terem ido longe demais.
Em primeiro lugar, a declaração completa é que ele pessoalmente lamenta que isso seja assim, algo que provavelmente não abrange o futuro imediato no seu caso - os substitutos de ambos seriam políticos do PL e é esse partido que alega irregularidades na candidatura de Moro -, mas abrangeria no meu.
Quanto a eles terem ido longe demais eu já cansei de falar. Basta procurar, nos posts antigos, aquelas ocasiões em que o pessoal ficava dizendo que a Lava Jato não podia parar ou coisa parecida. Em quantas delas eu perguntei se a operação era isso, e devia ter fim como qualquer outra, ou tinha se tornado um Quarto Poder independente.
Não tem nada a ver com corrupção, mas com o básico sobre comportamento humano. Vou fazer uma analogia.
Se começarem a prender os bêbados que atropelam pessoas, você vai aplaudir. Se passarem a prender quem só dirige bêbado, você vai tomar cuidado. Se as prisões chegarem a quem passa no amarelo, você vai ficar tenso. E se forem olhar os arquivos das câmeras de trânsito para prender até quem não faz mais isso, mas fez no passado?
A resposta é fácil: se tiver poder para tal, você vai fazer o possível para derrubar os caras que estão decretando as prisões. VOCÊ, sujeito honesto, boa gente e coisa e tal. É capaz de você se juntar até com o bêbado atropelador, cuja prisão aplaudiu no início, para afastar a corda do seu pescoço.
Imagine então o político, que não há um que não tenha estacionado em local proibido. Chegamos ao absurdo de haver quem defendesse que o governo Bolsonaro na prática se subordinasse à Lava Jato, que o chefe do Executivo não trabalhasse com quem estava quites com a justiça, mas tinha errado no governo anterior.
Já usei também a imagem das duas guerras mundiais. Na primeira, o pessoal quis castigar a Alemanha derrotada e gerou a segunda. Na segunda, enforcaram os líderes criminosos, os Lules e Dirceus de lá, mas aliviaram para gente como o Von Braun, responsável direto pelos bombardeios contra civis em Londres.
E há fatos decisivos a ressaltar. Não fosse o exagero histriônico, Moro não sairia do governo como saiu, por bobagem, dando munição à maior voz do inimigo e adeus ao cargo no STF, o qual, por simples espírito de corpo, jamais anularia a sua sentença se ele ali estivesse. O retrocesso que hoje vivemos está diretamente ligado a essa asneira.
Não há como não lamentar que eles se estrepem, pois nos levaram junto para o buraco.
Ah, o Valdemar disse que eles já exageraram ao prender o meliante-mor. Mas, como quem o colocou na cadeia foram os oito da segunda e da terceira instância, isso é só uma imagem para ilustrar a contradição entre o (grande) desejo de punição e a (pequena) base em que este se apoiava. Se tivessem parado ali, estaria tudo bem.
Aproveitando o espaço dado aos adversários, ontem também fomos acusados de radicalismo por dizer que o governo anterior é muito melhor que o atual quando ninguém ainda sabe até que ponto este chegará. E é claro que toda comparação se baseia no que se vê até agora e tudo pode mudar
Mas se por acaso a situação melhorar será no campo econômico. E, mesmo que isso aconteça e não seja mérito da conjuntura, eu dou uma enorme importância a fatores como a liberdade de expressão, onde a chance de melhoria é similar à de um demônio se transformar em santo. É quase impossível que haja uma conversão.
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