terça-feira, 7 de março de 2023

Vera duvidosa

A fauna de estranhos que escreve na Foice é tão numerosa que eu confesso que ainda não havia dado a devida atenção para uma tal de Vera Iaconelli, que se apresenta como diretora do Instituto Gerar de Psicanálise e doutora em psicologia pela USP, mas gosta mesmo é de discutir a "questão feminina".

Quer dizer, é daí que ela parte, pois seu feminismo é um varal onde se pendura uma mistureba ao estilo da Elaine Bruma, aquela que acha que para salvar o planeta é preciso parar de emitir carbono, mas também acabar com o patriarcado, o capitalismo, a religião e mais alguns pequenos detalhes.

No entanto, o que chama a atenção em seus dois mais recentes artigos é que a foicista, tão cheia de certezas, faz uma série de perguntas, levando-as inclusive para os títulos. O do penúltimo é:

Para ser mulher tem que ter útero?

A resposta, você já de ter imaginado, é: blábláblá, movimento feminista, blábláblá, mulheres trans, blábláblá, gênero, blábláblá, não precisa. O útero é só um detalhe da "anatomofisiologia", basta o marmanjo se fantasiar de mulher e fazer a barba direitinho para virar uma mulher como as outras.

Se não é a anatomia, uma coisa que deve caracterizar as mulheres, principalmente as trans, é que elas gostam de homens. Até poderia ser, mas Vera nos informa que a coisa não é fácil quanto parece ao abrir o artigo de hoje com outra pergunta:

É possível amar os homens?

A frase que se segue, outra pergunta, já anuncia a resposta: "Como amá-los, se ainda não nasceu um que esteja livre do machismo?"

E aí Vera fala do filme em que uma mulher diz tudo que queria fazer com o homem típico que estuprou sua filha, quando uma das amigas que a escutavam a interrompe: mas respondendo violência com violência não nos tornamos iguais a eles?

Essa questão atormenta a colunista, que a discute rapidamente e cita outro filme - parece que ela vai muito ao cinema, imagino que sozinha - antes de perguntar por si mesma: como responsabilizar e punir sem nos tornarmos o monstro que nos persegue?

É um drama. Mas surge uma luz no fim do túnel. Vera a detecta em um personagem do primeiro filme, que descreve assim:

(...) um outro modelo de homem, um personagem trágico. Não por duvidar de si, mas por não saber como enfrentar praticamente sozinho um modelo de masculinidade do qual é herdeiro e que se impõe com sua simples presença. Poucas pessoas vão identificar nessa figura aparentemente frágil uma alternativa ao discurso hegemônico. Mas é ele que, ao descrever como são os meninos em crescimento, revela a beleza da masculinidade quando ela é instigante, enérgica e cheia de compaixão. É um homem que ama o amor mais do que a simples imagem de si. Seu personagem é trágico porque sua tarefa é quase tão grande quanto a das mulheres. Trata-se de mudar o mundo a partir de um lugar infinitamente mais só, uma vez que ele é um ser raro entre os homens comuns, enquanto as mulheres têm umas às outras. Ainda assim, a promessa é que esse novo homem alcance suas companheiras em algum ponto mais além.

Bem, Vera, lamento dizer, mas, pela sua descrição, esse rapaz não parece muito interessado em alcançar as companheiras. Melhor você comprar uma entrada para a próxima sessão.


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