quarta-feira, 8 de março de 2023

Dois meses

Já que é moda, vamos festejar o Dia Internacional da Mulher a rigor, homenageando aquelas mulheres que ousaram exercer atividades tradicionalmente reservadas aos homens. Vamos falar das guerreiras, mas não das que exercem algum cargo burocrático numa força regular. Nos interessam as guerrilheiras. E as mais terríveis entre elas.

Estas não serão encontradas entre aquelas moças que faziam o almoço no aparelho subversivo há cinco décadas e, depois de inventarem torturas que ninguém sabe, ninguém viu, reapareceram repentinamente para lutar, agora sim com denodo, pelas gordas pensões que lhes asseguram uma velhice de fazer inveja a qualquer burguesa.

Nossa homenagem vai para aquelas que, mesmo já entradas na terceira idade, ainda se reúnem clandestinamente e partem para cima do governo que querem derrubar. Na maioria dos casos sem arma alguma, contando apenas com o treinamento ninja que tiveram através da internet.

Sim, estamos falando das perigosas tias do zap que, há exatos dois meses, invadiram Brasília com veículos de assalto terrestres - ou não tem assalto em ônibus? - para instaurar uma ditadura que impediria a censura da internet e não permitiria que egressos do sistema penitenciário assumissem a presidência.

Queriam mudar a ordem natural das coisas, substituir nossos mais arraigados costumes por suas ideologias exóticas. Estavam erradas, é evidente, o modo certo de alterar o governo em democracias como a nossa é vencendo as eleições realizadas com a tecnologia que todos elogiam e ninguém consegue copiar.

Mas merecem ser homenageadas porque não se aburguesaram, lutaram corajosamente pelo que acreditaram. Sem AK, sem bombas, sem nada. E quase conseguiram. Foi com muita dificuldade que nossas forças de segurança conseguiram conter seu ímpeto e acabaram detendo a maioria delas.

Agora estão lá, presas há longos dois meses por crimes tão terríveis que nossas bondosas autoridades, para não nos apavorar, se recusam a nominar. Nem seus advogados sabem do que cada uma é acusada.

Aí eu já não concordo. Sei que o objetivo é não ferir nossas suscetibilidades, mas eu acho que a gente aguentaria saber qual artigo a Dona Fulana infringiu, qual embasa a detenção da Dona Beltrana e assim por diante. Imagino que ouviríamos coisas horríveis, mas a curiosidade é maior, eu gostaria de saber.

Mais ainda, eu gostaria de saber qual era o plano do golpe como um todo. As tias do zap invadiriam um prédio e... Feito isso o país passaria a obedecer suas ordens? Como a quebra de um relógio leva à tomada do poder? A parte mais importante da história, que é como se vai de uma coisa à outra, ninguém nos conta.

Mas deve ser só para não nos chocar.

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