Acho que já contei essa história, mas agora é uma data redonda. Há exatos vinte anos, filhos ainda pequenos, nós resolvemos passar o Ano Novo na praia no último instante, chegamos em Caraguá, vimos a Rio-Santos completamente parada e mudamos o destino. Alugamos um apartamento até legalzinho, nos instalamos e pronto.
No dia seguinte, a essas horas, lá estava eu andando pela avenida na beira do mar até a padaria mais próxima. Era um trajeto pequeno, mas foi em meio a ele, na areia, que eu vi uma das cenas mais grotescas da minha vida.
A Brasília (ou coisa equivalente) estava com a porta traseira aberta, mostrando a enorme caixa de som que tocava, a todo volume, uma música (ou coisa equivalente) cujo refrão eu não conhecia até então: "Pocotó, pocotó, pocotó!"
Mas o que mais chamava a atenção era a coreografia executada pelos cinco ou seis "manos" que curtiam aquele momento. Eles faziam pose de cavalinho, um ao lado do outro com os bracinhos dobrados, e a cada "pocotó, pocotó, pocotó" davam pulinhos juntos, virando-se alternativamente para a esquerda e a direita.
Entrei na padaria invadida pelo som dos caras pensando que não poderia haver nada mais bizarro. E foi então que vi a típica TV no alto, mostrando, sem som, a posse em Brasília. Esta não era o carro, era a cidade, mas, "pocotó, pocotó, pocotó", lá ia o Brasil para uma longa jornada de pulinhos à esquerda.
Pensei que aquela junção de imagem e som era uma premonição do que nos esperava. E era mesmo, bem mais do que parecia no momento. De lá para cá o Brasil até deu uns pulinhos para a direita, mas já está de novo, "pocotó, pocotó, pocotó", cavalgando celeremente em direção ao que de pior existe na esquerda.
É isso, não só parecemos condenados a repetir o que sabemos que nada de bom trará. Também o faremos sem classe alguma, sem charme de nobreza decadente. Nossa música-tema não é dramática e solene, é a Eguinha Pocotó. Nosso personagem-símbolo bem poderia ser aquele negro simpático que se foi.
Pelé? Não, não, esse é de outro tempo.
O Lacraia, que Deus o tenha.
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