sábado, 14 de janeiro de 2023

Produto de nicho

Uma das vantagens de hoje é que ninguém corre o risco de ver receita de bolo no editorial do jornal. Um texto censurado e uma reação heroica de Estadão, Globo ou Folha? Chance zero, nem pensar. Em segundo lugar porque seus atuais integrantes não parecem muito dados a heroísmos. E em primeiro porque ninguém irá censurá-los.

Não precisa. Os caras chamam senhoras que nada fizeram além de protestar de "terroristas" e defendem que elas permaneçam detidas com filhos pequenos em campos de concentração improvisados (estamos no Brasil), criados para botar medo nos dissidentes do atual regime.

Censura é para o político ou cidadão comum que se manifesta através das redes sociais. E com ela concordam os jornalões que, como acabamos descobrindo, estavam falando apenas de si mesmos quando, no passado, faziam pose e empolavam a voz para defender a sacrossanta liberdade de expressão.

Eles detestam a concorrência, odeiam ser desmentidos em público por qualquer um, a perda do monopólio. Adorariam voltar àquele tempo em que até os mais poderosos precisavam tratá-los com respeito e o coitado que decidissem destruir estava politicamente perdido.

Tanto gostariam que fazem de conta que nada aconteceu. Como ainda são referência para saber quem ganhou o jogo e coisas assim, comportam-se como antes, confiantes de que podem se combinar para enfiar um discurso qualquer goela abaixo da população.

Omitem fatos, distorcem outros. E o resultado é que parecem viver num mundo paralelo, distinto daquele em que, apesar da censura e de às vezes ser necessário confirmar a informação para não cair nas fakes que jogam por aí, as pessoas trocam ideias diretamente e têm acesso ao que eles gostariam de esconder.

Onde pretendem chegar com isso? O que imagina, por exemplo, uma Elaine Cantanhêde quando, no melhor estilo "acredite no que eu digo e não no que você está vendo", escreve que é Bolsonaro que está retirando o direito das pessoas se expressarem e o STF apenas reage legalmente a essas agressões?

Bem, existe um público que quer acreditar no que ela está dizendo e não no que vê. Basta ler por aí, nas próprias redes. Discursos como o dela são comuns entre a parcela petista (ou coisa semelhante) dos seus usuários. E alguns acreditam mesmo neles.

E é verdade que o petismo é diretamente proporcional ao analfabetismo e à baixa instrução. Entre quem lê ou poderia ler jornais, a parcela de petistas ou semelhantes é relativamente pequena. Mas nós estamos falando de um país com mais de 200 milhões de habitantes!

Uma parcela de uma parcela dessa população ainda é muita gente, o nicho do petista alfabetizado é composto por milhões de pessoas, um público talvez tão grande quanto era o total dos que liam jornais no tempo em que eles publicavam receita de bolo para protestar.

Se eles sobreviviam naquele tempo, por que não hoje? É isso, é a saída que eles encontraram. A nossa grande imprensa está pouco a pouco se tornando um produto destinado prioritariamente a um nicho do mercado.

Pobre Tia Reinalda, teve que se adaptar para sobreviver.


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