Jornalismo trans

A Foice, todos sabem, já assumiu. Ali, entre manchetes sobre o custo do tratamento hormonal de "homens trans", só se fala em "pacote antigolpismo" e equivalentes, como se "golpismo" fosse um crime regulado em lei e tão fácil de reconhecer como o sexo de um recém-nascido.

Na ânsia de censurar as redes sociais que permitem a qualquer um desmenti-los, os "jornalistes" da casa só querem discutir o alcance do tal pacote. Não dizem claramente, mas imagino que gostariam de utilizá-lo até para punir quem dissesse que coisas como "homem trans" são ridículas demais.

É o jornalismo trans, um troço que usa nome de jornal, tem jeito de jornal e tudo mais, mas, quando você olha de perto, é só um panfleto disfarçado como tal, tão próximo do mínimo de isenção que se esperaria de uma imprensa decente (mesmo a que tem lado) como o Pablo Vitar de ser uma mulher.

Todavia a Foice está feliz, assumiu-se de vez. O coitado do Ex-tadão (como diz o atualmente sumido Urso Pândego) é que ainda sofre, ora se distraindo e soltando a franga, ora fingindo olhar para as meninas com o mesmo interesse que os outros olham para disfarçar.

O ministro Alexandre voltou atrás e anulou a proibição de um deputado eleito se manifestar através das redes sociais. Segundo o jornal, o Telegram deve ser punido por desobedecer ao primeiro impulso do magistrado, porém o STF precisa "fundamentar melhor suas decisões" nesse sentido.

Sim, Ex-tadão, entende-se o argumento, mas quais são as questões de fundo? Xandão já não sabia desde o início que sua decisão era sem pé nem cabeça e a reverteu antes que pudesse causar qualquer mínimo constrangimento internacional, mas só depois de mostrar ao Telegram que desobedecer suas vontades pode custar literalmente caro?

Os demais ministros não sabem disso? São ingênuos que chegaram ao posto sem entender que precisam "fundamentar suas decisões"? E que tipo de fundamentação você quer para a censura, Ex-tadão? Se for contra você é coisa de ditadura que ataca os que resistem bravamente, mas se for contra quem você não gosta está tudo bem?

Ao lado, o jornal alerta que o Rumble se diz imune a cancelamentos e não está cumprindo as ordens para cancelar "conteúdos considerados antidemocráticos". De novo, Ex-tadão, considerados por quem? Onde está definido em lei o que é um conteúdo antidemocrático? Um juiz pode usar seu cargo para fazer o que quiser?

Lá no meio da reportagem, um advogado recorda que o mais absurdo nem é punir o sujeito pelo que disse, mas cortar o seu direito de se expressar dali em diante, como se não existisse o fundamento legal de que não se pode castigar ninguém por um crime futuro, baseado na suposição de que ele o cometerá.

Mas essas questões centrais aparecem lá no cantinho e são apresentadas com a mesma convicção com que o garoto afetado chama a menina de gostosa para que os outros não percebam (assim pensa ele) sua verdadeira inclinação.

Para com isso, Ex-tadão. Você é trans, admita. Assuma-se, deixe de sofrer. Veja como a Foice se assumiu e está feliz.

Agradecemos ao leitor A. Fernandes por nos fornecer a foto do jornal sertanejo que assina para ilustrar esse texto.