Peguei o finzinho: "... afinal o jogador não pode se desligar totalmente dos problemas de seu país, ainda mais quando a sociedade está nas ruas, protestando, pedindo liberdade", dizia agora há pouco o narrador do jogo do Irã, apoiando, como sua Globo e quase toda a imprensa, as manifestações contra o governo dos aiatolás.
Algum jogador iraniano deve ter feito algo para merecer a solidariedade. E o mesmo certamente aconteceria se alguém tivesse coberto a boca ou aparecido com um arco-íris disfarçado no uniforme. O discursinho emocionado estaria garantido, talvez até com direito a comentário do Richarlison (o antigo, hoje global).
Mas aqui também tem povo nas ruas, protestando contra a fraude eleitoral e as demais arbitrariedades cometidas por um Judiciário cuja cúpula deixou de se pautar pela lei. Aqui também há censura - e prometem que haverá muito mais. Existem prisões ilegais, até exilados políticos. Não merecemos a mesma consideração?
De jeito nenhum. No caso brasileiro, algum protesto desse tipo seria encarado como uma perigosa ação golpista para levar o nazismo ao poder ou coisa parecida. E o pior é que eu acho que não só a Globo reagiria dessa forma, mas também a maioria da imprensa estrangeira.
Há uma pauta, há um lado. Se for contra um governo que alega seguir preceitos religiosos, tudo bem, apoia-se. Se for a favor dos gays, idem. Se fosse para defender a liberação do aborto seria a mesma coisa. Mas quem não se enquadrar nessa relação pode perder a esperança de ganhar apoio da turma.
Pelo contrário, é capaz deles dizerem que o sujeito precisa ser mesmo censurado, preso ou exilado. Se isso for contra a lei, talvez digam até que a legislação deve ser "aperfeiçoada" para conter esses novos crimes e ainda elogiem os pioneiros que os estão combatendo com as leis arcaicas.
Sem apoio externo, sem apoio interno...
Falando em futebol, uma vez eu conheci um senhor que havia jogado com o Telê no Juventus. Ele contava que, tomando uma goleada já irreversível e um banho de bola do Santos, dez deles só esperavam a partida acabar. Mas Telê corria o quanto podia, se atirava nas bolas, gritava com os companheiros, jogava como se estivesse 0x0.
É bonito, mostra o caráter do cara. Só que em nada altera o placar.
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