quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Desprocurado



O criminoso profissional é, antes de tudo, um pragmático. Riscos e benefícios de uma nova operação, conveniências e inconveniências de uma aliança, tudo ele analisa friamente, visando otimizar suas ações. E não poderia ser diferente na hora de exercer seu direito de cidadão.

Assim, ninguém se surpreendeu ao saber que o líder de uma conhecida organização criminosa recomendou que seus filiados votassem do líder daquela que conseguiu se registrar como partido político. Ou que esta, como de hábito, recebesse mais de 80% dos votos dos eleitores que se encontram reclusos em presídios.

Mais de 80%!! É um apoio fantástico, que dificilmente um candidato recebe em algum setor. E ainda mais relevante que ele é o "como de hábito". Não se trata de um acidente ou de uma aposta feita em determinada época para ver o que iria dar. Eleição após eleição, esses percentuais se repetem.

Isso significa que esse público está duplamente cativo, detido pelo Estado e encantado pelo partido-quadrilha. O ladrão roubou seu coração. E sua mente, pois, como foi dito no início, essa turma não se deixa levar gratuitamente pela emoção. Eles votam no sujeito porque sabem que serão melhor atendidos por ele.

E têm motivos para isso. Quem mais, na política brasileira, se aliou a quadrilhas de traficantes como as FARC e gangs de sequestradores como o MIR? Quem melhor entende a necessidade de fuzilar adversários após julgamentos precários do que um fiel servo da mais longeva e sanguinária ditadura das Américas?

Quem sabe punir traidores que ameaçam dar com a língua nos dentes? E que também dá um jeito nas testemunhas (e nas testemunhas das testemunhas)? Quem invariavelmente se mostra mais crítico das forças da lei e da ordem? Quem tenta esvaziá-las quando está no poder e desmoralizá-las mesmo na oposição?

É só ver os índices. Os de assassinatos, vitrine maior da criminalidade como um todo, nunca foram tão altos como quando eles estavam no poder e nunca caíram tão rapidamente como quando seu principal adversário assumiu.

E a insistência no desarmamento do cidadão de bem? Quer coisa melhor do que a certeza de que a vítima ou alguém próximo dela não poderá reagir? Reunido a um policiamento deliberadamente ineficiente, isso traz tranquilidade ao setor.

Só quem tanto roubou consegue entender outro ladrão. É isso que o pessoal quer, segurança para buscar o dinheiro da cervejinha sem o risco de ser depois agredido pela polícia ou sofrer alguma punição.

É verdade que de vez em quando a arma dispara e lá se vai o filho querido de alguém. Mas isso o candidato preferido também sabe que é culpa dos pais. Se eles estivessem abortado o moleque como seu partido defende com unhas e dentes, não teriam depois que chorar por ninguém.

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