sábado, 8 de outubro de 2022

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Eles farão uma grande reunião do partido para tentar responder ao que aconteceu no primeiro turno, uma reunião na universidade, onde estarão artistas e escritores. Enquanto isso, as pessoas comuns seguirão dizendo: "nos livramos dos bandidos".

Não é só no cinematográfico, também no ramo do jornalismo/intelectualismo de esquerda, há uma grande diferença de qualidade entre brasileiros e americanos. Depois dos comentários do Verdevaldo sobre as pesquisas, temos agora Noam Chomsky, 93 anos, dizendo a frase acima para uma entrevistadora da BBC.

Sim, é verdade, o grande linguista já declarou que Trump e Bolsonaro são piores que Hitler porque este só matou os judeus e os dois malvadões querem matar todo mundo para lucrar bastante. Mas ele é casado com uma brasileira e dá essas entrevistas quando está por aqui, talvez naquele dia tenha exagerado na caipirinha, sabe-se lá.

O fato é que desta vez o veterano assistiu a uma motociata pela fresta da cortina e, apesar das bobagens e contradições de sempre, se mostrou mais ponderado. A seguir, entre secos e molhados, algumas amostras de suas reflexões.

Tem outra parte que eu acho ainda mais reveladora, que é que os candidatos de direita, os candidatos de Bolsonaro, realmente varreram a maior parte do Brasil muito além do que se esperava para o Congresso e entre os governadores.

Isso é o que acontece com Trump. As pesquisas subestimam o apoio popular a ele e aos que ele apoia. E suspeito que o motivo seja o mesmo. A parte da população que está inclinada a votar em Trump ou Bolsonaro provavelmente é tão anti-elite que não confia nos pesquisadores, acha que eles fazem parte dessa conspiração de esquerda que está tentando destruir a família, a igreja. Eles simplesmente não respondem.

Houve uma tonelada de publicidade negativa nos anúncios da campanha de Bolsonaro em relação ao Lula. "Livre-se do ladrão". "Livre-se da corrupção". "Eles estão apenas roubando você". E a impressão que dá ao falar com as pessoas nas ruas é que isso teve um grande efeito. Eles (os trabalhadores e os pobres) são facilmente desviados para outras preocupações quando alguém como Trump, nos EUA, aparece no palco segurando em uma mão dizendo uma faixa que diz "eu te amo" enquanto que com a outra mão, ele te apunhala pelas costas. Eles apenas olham para o "eu te amo", não para o programa de governo. Chomsky usa uma boa parte da entrevista para explicar que o plano maligno da direita começou a ser implantado com Nixon e visa destruir os sindicatos e desviar o assunto dos temas econômicos para os culturais para vencer a guerra de classes. Sigamos com o Brasil.

O grande voto evangélico vai para Bolsonaro também. Novamente, questões culturais. Você olha as eleições de 2018 e as mensagens que vinham no WhatsApp é que o PT ia destruir as igrejas, ia transformar seus filhos em homossexuais e assim por diante. Esse é o problema. Desta vez, eles são todos ladrões corruptos que atacam a igreja, e por aí vai.

Se você tivesse um partido político ou organização defendendo os trabalhadores e os pobres, eles poderiam reagir a isso na base, via organização local. Os Democratas não têm. E acho que não existe nada parecido no Brasil. O PT simplesmente não está se organizando na base, no chão de fábrica.

É como quando os democratas se reúnem numa das festas chiques de Obama, onde podem ouvir Beyoncé cantando e discutir. Se os republicanos querem apelar à classe trabalhadora, mandam que Bush vá a um bar e peça uma cerveja e finja ser um "Zé" da classe trabalhadora. O que os democratas fazem: John Kerry vai praticar windsurf.

O PT e os Democratas se tornaram partidos de pessoas abastadas, que vão às universidades discutir o que fazer. E aí já está perdido.

E os ricos?

Os republicanos estão já bastante esgotados com os seus principais apoiadores, os setores corporativos, que não gostam deles. Assim como a classe empresarial no Brasil não gosta da vulgaridade e crueldade de Bolsonaro. Mas ainda assim, os dois grupos acham melhor isso do que ter outro petista ou democrata no poder.

E o golpe? Esse não poderia faltar. Se aconteceu nos EUA, há um risco grande de que aconteça no Brasil. O país está muito dividido e Bolsonaro está despejando armas na mão de pessoas que se organizariam facilmente para dar um golpe. Não é preciso muita imaginação para pensar que os que participam da motociata também poderiam pegar em armas se for o caso. Mas e a Amazônia? E o fim do mundo? Calma, Elaine, seu amigo não esqueceu do assunto. Só deixou o apocalipse para o final. Mas o pior crime de Bolsonaro, não só para os brasileiros, mas para o mundo inteiro, é destruir a Amazônia. Mais alguns anos com o atual avanço da extração ilegal da madeira, do agronegócio e da mineração e chegaremos em pontos de inflexão irreversíveis, no qual a floresta se converte em savana.

É um desastre para o Brasil, uma catástrofe para o mundo inteiro. Em vez de tratar disso, vamos fazer campanha em outra coisa: "olha aí, os ladrões do PT, tentando enganá-lo", "eles vão destruir a família", "vão atacar a igreja cristã". Enquanto isso, nos aproximamos mais e mais do ponto em que não vamos mais sobreviver.

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