segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Multi-Homem

Disfarçados como integrantes de uma famosa banda de rock, Os Impossíveis assumiam suas verdadeiras identidades assim que chamados para combater algum crime. E se um malfeitor já tinha dificuldades para escapar do Homem Mola e do Homem Fluido, imagine do Multi-Homem.

Ainda bem que os tradutores da época não o chamaram de Homem Mimeógrafo, pois, décadas depois, ele acabou ganhando uma versão política brasileira. E agora não são apenas os bandidos que se deparam em toda parte com o super-herói que se autocopia, mas também aqueles que votam neles.

O sujeito está escrevendo sobre o telescópio ou a vida das algas e ele aparece repentinamente no texto. Dia desses, por exemplo, ao contar que o festejado Winston Churchill era na verdade racista, taxista e malvadão, o petralhinha Mario Sérgio Conti acabou por descrevê-lo como uma espécie de Bolsonaro inglês.

E a violência? Você poderia pensar que a diminuição recorde do número de homicídios sugere que é melhor ter um presidente que defende o cumprimento da lei do que um chefe de quadrilha que apoia os "meninos" que podem matar para roubar um celular.

Mas os foicistas explicam que ela é como a pandemia, que atingiu outros países independente do governante, mas só chegou aqui porque o genocida a convidou. Antes a violência acontecia por acontecer, agora não a teríamos sem ele. Não houve uma diminuição em relação ao lulopetismo, mas um explosivo aumento em face do ideal.

"A difusão da lógica bolsonarista de que tudo se resolve a bala potencializou a brutalidade nas ruas", diz Cristina Serra. "Solidariedade seletiva de Bolsonaro é licença para violências e mortes", emenda André Santana. Até a ONU, preocupada com a paz mundial, "monitora o ódio bolsonarista", como garante Chamil Jade.

Não é para menos. Se o cara se multiplica a ponto de apertar cada gatilho mortal, quem garante que não ultrapassará nossas fronteiras? E o pior é que talvez não baste mais atacar a fonte porque as cópias podem ter ganhado vida própria. Quem alerta para esse risco é a nossa conhecida Elaine Bruma:

Depois de quase quatro anos no poder, usando a máquina do Estado para solapar a democracia, o bolsonarismo infiltrou muito mais fundo suas raízes podres nas instituições brasileiras e em organizações da sociedade civil. Se em 2018, os piores ataques racistas, homofóbicos, xenófobos e misóginos eram desferidos por indivíduos ou grupos, em 2022 eles vêm de parlamentos e associações. Embora ambos os cenários sejam pavorosos, a diferença é substancial. E ela mostra que a corrosão da sociedade brasileira será ainda mais difícil de reverter do que acreditam os mais pessimistas.

Como o personagem Smith da icônica série Matrix, Bolsonaro se replica aos milhões. Mesmo que ele não seja reeleito nem seja capaz de consumar o golpe que prepara para o caso de derrota, milhares de Bolsonaros se reelegerão no parlamento e seguirão ocupando cargos de poder nas entidades de classe.

Agente Smith, "se replica aos milhões", "milhares se reelegerão". Estou dizendo, é a descrição do Multi-Homem. Aquele que ainda por cima tinha identidade secreta de roqueiro que parecia inglês... como o Churchill!


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