"O bolsonarismo, queira ou não, com ou sem bots, é um movimento popular, que reflete os anseios de grande parte da sociedade. O bolsonarismo roubou da esquerda o direito exclusivo de falar em nome do povo e, hoje, organizado nas redes, alcançou enorme capilaridade e estratégia de ocupação das ruas."
Quem diz é Fernanda Torres, que, talvez por frequentar a praia e lá conviver com brasileiros normais, tem se revelado um raro exemplo de tentativa de adaptação à realidade no que chama de "campo laico progressista". Mas Fernanda também gosta de ler e, hoje, em sua coluna da Foice, comenta o livro O Ovo da Serpente, escrito por Consuelo Dieguez (?), cujo conteúdo todos podem adivinhar (heheheil).
A originalidade do livro está em deixar de lado as explicações econômicas tão amadas pela esquerda e abordar o tal "bolsonarismo" do ponto de vista cultural. Concordando com isso, Fernanda chega a concordar conosco e admite que a regra do "é a economia, estúpido" perdeu muito de sua força de uns tempos para cá:
A partir de 2013, no entanto, com o florescimento do extremismo nacionalista ultraconservador, os princípios morais da família tradicional e das crenças cristãs se transformaram num catalisador de votos. Líderes mundiais com tendência totalitária passaram a questionar os direitos universais que, aos olhos dos progressistas, pareciam assegurados pelo senso comum. "Dois mil e dezoito foi a eleição do ressentimento contra os governos passados que defendiam os direitos da mulher, dos gays, dos negros. Um ressentimento que não era só dos ricos e da classe média. Era também dos pobres, que se indignavam, por exemplo, com o fato de sua filha ter virado lésbica 'por culpa da esquerda', ou de o filho ter sido morto pelo traficante na favela e ser defendido pelo 'pessoal de direitos humanos'", explica a doutora em ciências da comunicação Magali Cunha, em O Ovo da Serpente. O jogo sujo das fake news, as mamadeiras de piroca e as imagens distorcidas das passeatas do Ele Não influíram nas eleições, mas não só. O Brasil revelou ser um país mais conservador do que a elite intelectual e política supunha, o que desembocou numa aversão mútua inarredável.
Isso representa um imenso avanço em relação ao esquerdista imbecil que tenta vincular o que eles chamam de "ressentimento" à situação econômica do sujeito. A junção de classe média, ricos e pobres num só campo é mais próxima da nossa imagem de um Terceiro Estado em revolta contra a parasitária e arrogante "elite intelectual e política".
Mas ainda falta muito para o pessoal chegar lá. Por exemplo, ninguém precisa perder o filho para se indignar com quem defende quem matou o filho de outros para roubar um celular. Talvez para não ter que admitir que são tão depravados como o monstro em que votam, os esquerdistas falam dessas coisas à distância, como se fossem secundárias.
Outro aspecto a considerar é que a expressão política dos "progressistas" está ligada a uma corrupção sem igual na história humana. Nunca um governo deve ter roubado tanto seu país como o lulopetista.
Além de tudo, esses ladrões têm objetivos totalitários. Eles é que defendem censura, ditaduras assassinas e todo o pacote derivado do velho comunismo. Nesse ponto, gente como Fernanda agride os fatos para inverter completamente a história.
Mas é o que já foi dito, como não conseguiriam se olhar no espelho se considerassem todo o cenário, os progressistas se prendem a uma ficção em que estão sendo combatidos por se preocuparem com os direitos de grupos oprimidos e coisa e tal, por serem generosos demais.
É um modo de tentar justificar a raiva que sentem de quem os desmascara desde que, com a internet e as redes, perderam o controle da narrativa. É o que resta à pequena nobreza que vê seu mundo de privilégios prestes a desabar. Fernanda até que se mostra comedida em relação a seus pares. Proponho que a poupemos da guilhotina.
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