sábado, 9 de julho de 2022

Aconteceu em 9 de julho

Índios atacando um pequeno povoamento de brancos, defendido por uma muralha de madeira. Foi com esse cenário, geralmente encontrado em faroestes antigos, que o vilarejo de São Paulo de Piratininga amanheceu na manhã gelada de 9 de julho de 1562. E não havia cavalaria para chegar na última hora tocando o clarim.

Não havia nem muitos brancos. Estes se limitavam a cerca de uma dúzia de jesuítas - um dos quais era José de Anchieta - e mais alguns poucos. A defesa coube realmente ao cacique Tibiriçá, pai de Bartira, sogro do aventureiro João Ramalho, que previu o ataque e reuniu uma coligação de índios igualmente simpáticos aos portugueses.

Muitos deles viviam ou haviam vivido na aldeia com os jesuítas. Mas isso também acontecia entre os atacantes, em parte constituídos por egressos do Colégio que passaram a hostilizá-lo. Era uma briga de índios, tudo um pouco misturado, o próprio chefe dos revoltosos era sobrinho de Tibiriçá.

Sob o seu comando havia um grupo de índios carijós - parte de uma grande nação que se estendia até o Sul, famosa entre os portugueses por recebê-los amistosamente - e duas tribos que você pode adivinhar em que região habitavam: os guarulhos e os guaianás (ou guainases).

A cidadela era bem localizada, próxima de fontes como os rios Tamanduateí e Anhangabaú. E bem defendida pela natureza e pelas providências dos jesuítas, numa alta colina limitada pelo Pátio do Colégio e pelo atual Largo de São Bento (onde vivia a tribo de Tibiriçá), quase toda cercada pela paliçada e muralhas de terra batida.

A exceção estava nos fundos do Pátio do Colégio, onde ainda hoje se vê o despenhadeiro que parece quase impossível de escalar. Foi por ali que os invasores decidiram atacar, subindo o morro debaixo de flechadas e pedradas. As lutas se estenderam até que eles se renderam ou se retiraram, dois dias mais tarde.

Datas coincidentes

Séculos depois o 9 de julho se tornaria o dia do estado inteiro, mas foi nessa data que a sua capital sofreu sua maior ameaça e sobreviveu. Ainda bem que nossos politicamente corretos não sabem disso, caso contrário Tibiriçá, que recebeu o nome cristão de Martim Afonso, estaria sendo agora chamado de traidor para cima.

Ele morreu no Natal daquele ano, em 25 de dezembro de 1562. Seus restos mortais estão guardados na cripta da Catedral da Sé.


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