quarta-feira, 29 de junho de 2022

A mídia vai às compras

Os assassinatos como um todo diminuíram, não dava para culpar o armamento da população. Brancos e pretos morreram dentro das proporções de antes, não dava para falar em racismo. A polícia matou menos, não havia como sugerir estímulo a milícias assassinas. Mas os policiais mataram um percentual um pouco maior de negros.

Ufa, estava salvo o dia! Bastava se concentrar neste último detalhe e insinuar que a polícia se tornou mais racista durante o governo Bolsonaro e por causa dele. Foi assim que alguns jornalistas cumpriram a meta de ontem.

Tempos atrás, no entanto, nossos jornais esqueceram o total de assassinatos e não culparam o governo ao anunciar que "o país" matava cada vez mais negros. Os percentuais de negros e brancos nas últimas décadas haviam sido coletados por um desses institutos que "estudam a violência" e validavam as manchetes.

"Realidade insofismável" (ou coisa parecida), chegou a gritar Tia Reinalda, que agora utiliza expressões como "carne preta e pobre", das quais zombava quando era o Reinaldo Azevedo. Estaria ela certa? Teria parte de sua antiga lógica sobrevivido à carga de hormônios de enganação ingeridos durante o processo de transição?

Que nada. O que acontece é que, durante o período analisado, foi se tornando mais bonito e vantajoso (quotas, quotas) ser negro. E como isso depende da autodeclaração, o percentual de negros da população brasileira foi ficando cada vez maior.

Comparando os dois índices se verificava que o aumento de mortes entre eles seguia o de negros como um todo e às vezes era até um pouco menor do que este, nunca maior. Mas as fake news sobre o assunto também passaram incólumes pela fiscalização das agências verificadoras.

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Claro que não dá para noticiar tudo de todos os ângulos. Mas a nossa mídia cada vez mais escolhe seus assuntos como a moça que só sai do shopping quando encontra a roupa adequada ao efeito que quer causar à noite, sem se preocupar com a sua durabilidade ou com o preço que pagará.

Veja o caso da manifestação popular do último 7 de Setembro, uma das maiores da história, a maior a favor de um governante. Normalmente, deveria ser salientada e analisada durante muito tempo. Mas, como não se encaixava no figurino, foi chamada de "golpismo" e deixada de lado.

O mesmo acontece com a recepção ao presidente nas ruas do país. Se dependesse da maioria da mídia brasileira você poderia pensar que as viagens do homem consistem em visitar uma cidade, almoçar com alguém e voltar. Talvez nem soubesse o que é uma motociata.

E efeito disso no outro lado? Como os mesmos jornais não registram que a oposição deixou de falar em manifestações de rua depois da paulada do 7 de Setembro? Que o candidato que seria o mais popular vive a fugir do povo num entra-e-sai de aeroportos e hotéis por portas laterais? Disso eles não falam, não lhes cai bem.

Mas há um assunto que eles adoram abordar: pesquisas eleitorais.

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