No tempo do Mensalão, perguntaram a um jornalista europeu por que eles quase não falavam da corrupção então institucionalizada no país. E a resposta foi que aquilo não era bom para os negócios, não combinava com o que os leitores de além-mar gostavam de ver sobre o chefe do esquema e sobre o Brasil.
Aqui era o país em quem uma gente sorridente sambava, jogava futebol e ia para a praia de fio-dental. Um presidente simples, pouco instruído, saído do povo, combinava com essa mitologia. Por que dedicar aquela insignificante notinha mensal sobre o patropi a tentar desfazer essas ilusões?
Pior ainda se o veículo tivesse uma quedinha para a esquerda, pois aí o malandro se encaixava também no papel, que já exercia há décadas entre nós, do messias operário que confirma as fantasias dos autodenominados intelectuais do setor.
Desonesto, porém esperto, o sindicalista picareta sempre captou esses sentimentos e soube utilizá-los a seu favor. O problema é que, fugindo de ambientes em que poderia ser criticado (como ainda acontece) e acostumado aos bajuladores, ele muitas vezes passava do tom.
Como brasileiro, dava vergonha ver a plateia fingindo rir de uma de suas tiradas idiotas em um evento nacional. Ou perceber a condescendência paternalista com que os líderes de outros países encaravam suas tentativas de se mostrar "espontâneo" em reuniões internacionais.
Vaidoso, ele não percebia. Pelo menos até o dia em que resolveu descer no Oriente Médio para pacificar a região com sua experiência de pelego sindical e acabou virando assunto de programas humorísticos locais. Desde então, recolheu-se.
Ele, não a imprensa petista por ideologia ou dinheiro. Esta continuou vendendo a fantasia do líder internacionalmente admirado ao gado que não queria ouvir outra coisa. E ainda a estendeu à sua sucessora, como se sua debilidade mental pudesse ser escondida de alguém um mínimo mais atilado.
Acostumado a esse brete, o gado chegou a acreditar que "o mundo" não mais aceitaria um Brasil não petista. Horrorizados com o "golpe", os Brics exigiriam que Temer fosse derrubado, Putin não o receberia... Eles tiravam fotos de instantes em que os outros olhavam para o lado e as usavam como provas do que diziam!
Com Bolsonaro, evidentemente, tudo piorou. Afinal, ele era o miliciano homofóbico e racista que queria torturar as mulheres e queimar a floresta. A China deixaria de comprar nossos grãos para forçar os brasileiros a derrubá-lo, ninguém falaria com ele... tudo igual.
Tanto mentiram que até os condutores passaram a acreditar no que contavam ao rebanho. A fantasia passou a ser parte da sua identidade psicológica. Só isso explica o desespero que toma essa gente quando acontecem coisas como um bilionário internacionalmente conhecido vir ao Brasil e falar com o seu presidente.
É divertido ver isto, mas o gado se sente realmente traído quando percebe que "o mundo" não funciona conforme lhe ensinaram. Pô, até o sujeito de Marte e dos carros elétricos! Já não bastava o Obama, que antes tanto citavam, chamar o cara de ladrão em suas memórias? Eles sentem demais.
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