quinta-feira, 26 de maio de 2022

Ouro de Pequim

A China vem aí. Mas não é por baixo, pela Argentina, como muitos temiam. O drible é pelo outro lado, pela Guiana, um daqueles vizinhos estranhos que nem disputam as eliminatórias da Copa, que também é vizinho da Venezuela e, segundo recentes descobertas, pode ter um subsolo tão rico em petróleo quanto esta.

Os chineses estão fazendo maciços investimentos no país, que, com pouco mais de 700 mil habitantes (população equivalente a de Ribeirão Preto) e uma tradição de corrupção política e fragilidade institucional, não deve oferecer maior resistência ao domínio do organizado gigante.

Aquisição direta de grande parte do território, como o arrendamento de 99 anos que a Coréia do Sul fez com uma área agricultável do tamanho do Sergipe em Madagascar? Migração em massa de milhares de chineses para alterar a demografia local? Ou apenas um domínio terceirizado, através de uma dívida sem fim e o apoio de uma elite local?

A forma final não importa, o fato é que tudo indica que os chineses acabarão por controlar o pequeno país como se fosse uma colônia. E parte desse interesse envolve a sua proximidade com o Brasil.

Uma nova estrada até Manaus já estaria nos planos. E com a melhoria de mais algumas, a produção que hoje é escoada por nossos portos seria levada para o porto de águas profundas que está por ser construído na Guiana, muito mais próximo do Canal do Panamá e, portanto, do Extremo Oriente.

Até aí tudo bem, essas ideias já são antigas e nosso interesse coincide com o deles. O problema é que um enclave chinês numa fronteira desprotegida como a amazônica pode ter outros desdobramentos. Se aquelas ONGs estrangeiras já fazem seu estrago, imagine uma ação de maior escala, planejada para décadas à frente.

E não estamos falando só em biodiversidade e coisas do tipo. Se você quiser um bom motivo para os chineses tentarem se meter mais por aqui, o "Projeto de Nação", documento do instituto ligado ao general Villas-Bôas que tanto apavorou nossos esquerdistas nos últimos dias, oferece o mais antigo de todos: ouro.

Segundo a análise dos militares, até o final desta década o nosso país estará no centro de uma disputa por ouro entre Rússia, Estados Unidos e China. Falando especificamente sobre esta, os autores do texto dizem:

"A potência oriental adquiriu vastas áreas de mineração da Guiana e iniciou um processo acelerado de produção predatória para o meio ambiente, com vistas a atingir a liderança do mercado mundial, dominado pela Austrália."

Ainda segundo o documento, é por motivos como esse que urge dar continuidade à integração da Amazônia, algo que passa por "remover as restrições da legislação indígena e ambiental, que se conclua serem radicais, nas áreas atrativas do agronegócio e da mineração".

Não são os Leonardos di Caprio ou as Gretas, são as maiores potências do planeta e uma virtual colônia da mais tinhosa entre elas. Não são as ameaças ao clima, às árvores ou às girafas. É o ouro, estúpido.


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