sexta-feira, 15 de abril de 2022

Política e religião

De um ponto de vista corriqueiro não haveria motivo para que os romanos matassem o autor de uma frase como "dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", que separa as questões mundanas (políticas) das espirituais, o braço horizontal e o vertical da cruz simbólica em que sempre estamos.

Séculos antes, numa Jerusalém igualmente conflagrada, Jeremias havia pregado mensagem semelhante e Nabucodonosor mandou tratá-lo com deferência após suas tropas invadirem a cidade rebelada e destruírem o templo.

Claro que Jeremias falava principalmente para uma nobreza orgulhosa e na época de Jesus a elite judaica procurava conviver com o inescapável domínio romano enquanto a revolta pululava entre a população. Mas, se não houvesse a intriga para apresentar uma mensagem religiosa como política, provavelmente nada teria acontecido.

Porém aconteceu e Jesus foi condenado a uma das mortes mais ignominiosas possíveis, na dolorosa cruz real que era usada na antiguidade para punir e passar uma mensagem de horror aos que pensassem em seguir o caminho dos que já haviam sido punidos.

"Dos" porque seu uso em execuções em massa era generalizado. Os próprios babilônicos, tempos depois de Nabucodonosor, se revoltaram contra os persas que os haviam vencido e foram castigados com a crucificação de três mil membros de sua elite. Após tomar a teimosa Tiro, Alexandre mandou crucificar dois mil de seus habitantes.

Em Roma, seu uso não se limitava às regiões conquistadas. O cinema tornou famosa a crucificação dos escravos revoltados sob a liderança de Spartacus. E o castigo continuou a ser usado séculos depois de Jesus, sendo abolido apenas no ano 337.

Quem o proibiu foi Constantino, o imperador que teria se convertido após ver no céu uma cruz acompanhada das palavras "in hoc signo vinces". Ou ver uma cruz com letras que indicavam o nome de Jesus e ter dito a frase em questão, as versões variam um pouco.

De qualquer modo, a partir daí o paganismo não resistiu mais que algumas poucas décadas. Transformado em religião oficial do império, o cristianismo assumiu uma dimensão que resistiu até às invasões dos bárbaros e nunca mais deixou de crescer.

Não dá para dizer que foi só por isto, mas no fim seu grande sucesso deveu-se a junção da política com a religião.


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