23 de novembro de 2018. Jair Bolsonaro acabara de derrotar o petismo e o portal Comunique-se, dedicado a análises da mídia, estampava uma manchete que parecia anunciar um novo tempo em seu setor: "Na contramão da imprensa, O Antagonista e Crusoé ampliam redações".
Na matéria, elogios à dupla que três anos antes havia iniciado o projeto agora respeitado por todos e uma descrição dos planos para ir ainda mais longe. No cerne de tudo, equipes enxutas - a Crusoé nunca teve mais que nove contratados fixos - mas de alta qualidade. E um modelo financeiramente sólido.
Recusando qualquer financiamento governamental, o grupo mantinha uma parceria com a Empiricus e vivia da promoção de simpósios e propaganda na Internet. E dos clientes fieis. A Crusoé tinha 55 mil assinantes que pagavam uma média de R$ 170 por ano. Quase dez milhões de reais ao ano sem imprimir uma folha de papel! E iria melhorar.
Só que... Olhando com cuidado, já se podia ver a sombra da serpente insinuando-se naquele paraíso. Numa dessas ocasiões, Cláudio Dantas declarava:
A contratação do Renan vem em linha com a demanda que surge com montagem de um novo governo e com a "nacionalização" da Lava Jato, principalmente por causa da presença do Sergio Moro, por tudo que ele representa, e pela equipe que está sendo montada para o Ministério da Justiça.
Achar que a parte era maior que o todo, que o subordinado devia decidir pelo chefe, essa era a tentação. Não disse o senhor presidente que há cargos cujos ocupantes cabe a ele, inclusive legalmente, escolher? Bobagem, ele não quer é que você mostre que sabe que melhor que ninguém como as coisas devem funcionar.
Não era bobagem. O Executivo não é um braço do Judiciário, precisa trabalhar com aqueles que foram eleitos pelo povo e olhando para a frente, não para os ilícitos que alguns possam ter cometido no passado. Não pode subordinar todo o governo a isso. Sua função no combate à corrupção consiste em evitá-la ao máximo dali em diante.
A história do presidente perfeito que chega sozinho e ameaça botar todos na cadeia enquanto os convence a apoiá-lo sem limites nunca passou de fantasia. Quem tem essa mentalidade não consegue nem dar os primeiros passos, acaba sendo obrigado a entrar num partido onde há tantos impuros como em outros e já ali não consegue avançar.
Talvez Mainardi e Sabino ainda venham a aceitar isso e passem a respeitar quem tentava lhes mostrar que o governo não era perfeito, mas estava fazendo o possível para o momento, que o importante era não permitir o retorno do petismo que ainda dirige boa parte do país através de seus subordinados nas cortes e na imprensa.
Talvez. Por enquanto só fizeram o oposto. Chegaram ao cúmulo de ajudar o descondenado ao equipará-lo ao presidente. Compraram o absurdo discurso esquerdista de que Bolsonaro era culpado pela pandemia. Chamaram seus apoiadores, que elogiavam quando do impeachment, de fascistas ou coisa pior.
Quem quer ser ofendido gratuita e erroneamente pela revista que assina? Colheram o que plantaram. E que ainda plantam, agora pregando o voto nulo. Se o fazem por maldade ou porque são sessentões pensando com adolescentes bobos é o de menos, mereceram o desprezo que seu antigo público hoje lhes devota.
Esta Crusoé não naufragou por acaso, insistiu em jogar teimosamente o navio contra os rochedos sem entender porque ele cada vez perdia mais passageiros. Não morreu, mas agora perambula em andrajos, recolhendo raminhos para preparar o peixe que conseguir arrumar Sexta-Feira.
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