quarta-feira, 2 de março de 2022

Sempre foi o monstro

Guerra entre os dois países europeus com maior extensão territorial? Um nova doença espalhando-se como as antigas pestes? Nada disso. Para quem vive no Brasil, o que de mais estranho se viu nos últimos tempos foram as repentinas mudanças de comportamento de figuras conhecidas.

Não se trata de uma questão de foro íntimo como o sujeito se confessar gay ou viciado em heroína. O Eduardo Leite se confessou, mas continuou sendo o que era em sua vida pública, não se transformou em nazista, pregador do Hare Krishna ou nada parecido.

Não estamos também falando de conversões pensadas, assumidas, defendidas e explicadas como a do saudoso Paulo Francis e tantos outros que foram esquerdistas na juventude e mudaram de lado mais tarde.

O que grassou entre nós nos últimos tempos foram pessoas que dormiram corintianas, mas acordaram palmeirenses e passaram a desfilar por aí de camiseta verde como se nunca tivessem sido outra coisa.

Camiseta vermelha, seria mais adequado. Dois exemplos disso são o tal Nando Moura, que conheço pouco, e o Luciano Ayan, que conhecia um pouco mais. Se já é raro o sujeito transitar da direita para esquerda porque o amadurecimento o leva em sentido contrário, imagine como eles, do nada, do dia para a noite.

Suborno, chantagem, oportunismo para "causar" e faturar? Sei lá. O que eu posso afirmar com certeza é que não há mudança mais escandalosa que a de quem dizia ter sido esquerdista na adolescência e mudado à la Francis, mas certo dia, sem justificativa alguma, passou a defender caninamente as pessoas e ideias que dizia combater.

Quem falou hoje sobre esse falsário foi Diogo Mainardi, alguém que também mudou, mas bem menos, sem inverter o sinal, mais por raivinhas e equívocos que qualquer outra coisa. Destaco dois parágrafos do texto por ele publicado.

Só me acovardei recentemente, depois de me deparar com uma imagem medonha de Reinaldo Azevedo de chapéu. Por um instante, me vi igual a ele, e não pode haver nada mais aterrorizante do que isso. Fui um dos culpados por ter tirado Reinaldo Azevedo do anonimato, promovendo sua carreira, e me penitencio até hoje por minha incapacidade de enxergar o caráter que se escondia debaixo daquele chapéu. Ou melhor: eu enxergava, sim, mas havia, naquele momento, uma afinidade aparente, que se sobrepunha às questões de caráter. Cheguei a escrever a orelha de um de seus livros, que ele deve ter repudiado, porque era sobre a rapina lulista. Aquela orelha é uma mancha em minha carreira, assim como na dele.

Quando a PF o grampeou recitando poesia para a irmã de Aécio Neves, meu arrependimento aumentou um bocado. Não havia crime ali, só uma promiscuidade vexaminosa, exposta publicamente. Quem faz o nosso trabalho está sujeito a ser atacado. Os petistas tentaram me associar às piores imundices ao longo dos anos e foram imitados pelos bolsonaristas. O próprio Reinaldo Azevedo, aliás, tratou de espalhar algumas dessas imundices, acabando por esmerdear-se completamente em seu processo de apodrecimento moral. As imundices contra mim nunca colaram porque sou limpo e transparente. O caso de Reinaldo Azevedo é diferente: todos conhecem o caráter que se camufla sob aquele chapéu.

Depois que acontece sempre é fácil dizer que a gente já pressentia algo estranho, mas acho que ter se deixado levar pela "afinidade aparente" num momento em que o partido-quadrilha quase tudo dominava é uma explicação razoável para o caso.

E Diogo tem ainda mais razão quando diz que, ao contrário do que poderíamos pensar lendo o que escreveu e escreve a asquerosa figura, nunca houve mudança alguma. O caráter de Tia Reinalda sempre foi o que agora vemos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário