sexta-feira, 4 de março de 2022

O fim se aproxima

Se tem gente achando que o mundo vai acabar, imagine quem já achava. De seu retiro na floresta, Elaine Bruma continua a nos alertar. Do jeito que vai, não daria nem tempo de quem mandou sancionar a vereadora cumprir sua pena. Com a humanidade em risco, como Elaine continua se ocupando desse problema isolado? E por quê?

Uma guerra de homens brancos

Como quer que a vejamos, a guerra na Ucrânia está sendo conduzida por homens brancos e seus valores patriarcais, na vanguarda de um mundo moldado pela economia do carbono. Os combustíveis fósseis determinam não apenas o modelo econômico implantado desde o século XVIII, mas também a conformação cultural e subjetiva, a construção de valores construídos em torno de símbolos masculinos de poder e impostos pela minoria global que levou o planeta ao colapso climático.

Mas quando foi que tudo girou em torno de símbolos femininos de poder impostos pela maioria? Nunca, né? Além de mudar a matriz energética, Elaine quer alterar coisas muito mais profundas. Por algum motivo, ela acha que o problema deve ser aumentado para ser resolvido.

Este é o quadro desta guerra, que pode exterminar o futuro da espécie humana. Não apenas por causa do risco nuclear, mas por causa da redução ainda maior da margem climática.

Traduzindo: se a pandemia fez o pessoal esquecer da Greta, a guerra mais ainda. Há uma relação entre as imagens fálicas das plataformas de petróleo e as cenas de masculinidade exacerbada calculadamente produzidas por autocratas como Vladimir Putin, o que expressa subjetividades vinculadas à estratégia objetiva de retardar a substituição da energia fóssil por energia renovável.

É a masculinidade tóxica, literalmente. As plataformas de petróleo não tem aquele formato porque ele se revelou o melhor meio de realizar aquele trabalho, mas para incentivar as subjetividades.

É notório que países como a Rússia se dedicam a retardar as mudanças bloqueando o progresso nas cúpulas climáticas e usando seus robôs para produzir informações erradas sobre o aquecimento global. Putin não iniciou seu conflito devido ao imperativo climático, mas sem petróleo e gás, a Rússia não teria sido capaz de proteger seu arsenal. Sem petróleo e gás, a Rússia – e não apenas a Rússia – perde poder de fogo.

Pode ser sobre aquecimento, Trump, Bolsonaro... Todas as opiniões que desagradam pessoas como a Elaine são por elas atribuídas a "robôs". Não se transformando em censura, esse escapismo é até divertido.

Petróleo e gás, no entanto, estão com os dias contados. Um estudo publicado em novembro passado pela revista científica Nature Energy mostrou que metade dos ativos fósseis do mundo serão inúteis até 2036. Coincidentemente, este é o ano em que Putin planeja deixar o poder.

Pô, Elaine, dois coelhos com uma cajadada só. Ou duas alfaces colhidas com a mesma mão, como lhe agradar. Se vai ficar inútil, o pessoal terá que abandonar os ativos fósseis na marra. E com o Putin aposentado, melhor ainda.

Os países que atrasarem a descarbonização serão os que mais perderão. E este é o caminho para o qual Putin está levando a Rússia. Mas se ele é um personagem sinistro, isso não isenta Joe Biden e os líderes europeus, que também jogam com cartas marcadas. Qual tem sido a grande aposta do chanceler alemão Olaf Scholz? Anunciar um investimento de 100.000 milhões de euros em suas Forças Armadas.

Se eles são os que mais perderão, que se virem depois. Deixe-os quietos, Elaine. Em 2036 eles não terão alternativa e farão o que você quer. Esta é mais uma guerra de homens brancos agarrados ao passado enquanto o futuro das gerações humanas do planeta – e as nacionalidades importam pouco – está um pouco mais condenado a cada dia.

Falando em futuro, Elaine, eu não esqueci que em 2018 vocês disseram que o mundo só tinha mais doze anos. Agora já esticaram o prazo de 2030 para 2036. Daqui a pouco será 2048. É meio difícil levar essas previsões a sério.

Essa guerra consome enormes esforços que devem ser direcionados para a criação de um mundo de energias renováveis ​​revestido de outros valores. Se como resultado dela as corporações de combustíveis fósseis conseguirem aumentar a produção de gás em países como os Estados Unidos e incentivar países como o Brasil a perfurar mais porque o preço do petróleo subiu, os comerciantes do passado terão vencido e roubado muito do futuro à geração de Greta Thunberg e Txai Suruí.

Acabar com as guerras, aplicar os recursos nelas desperdiçados em energias renováveis, ouvir mais a Greta, criar um mundo com valores diferentes dos que vigoram há milênios... tudo em dois ou três anos. Fácil, fácil. É só os robôs não começarem a dizer que o plano é inviável.

Alguns analistas respeitáveis ​​afirmam que a terceira guerra mundial já começou. É possível. O que podemos dizer é que a estreita margem que temos para controlar o superaquecimento global, anunciada na segunda-feira pelo aterrador relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), já foi reduzida. Se a guerra se expandir, pode desaparecer. E nós com ele.

Imagino os tais analistas. Já o "aterrador relatório" informa que 2020 foi terrível em termos de aquecimento e 2021 foi quase igual. Só que o mundo estava parado por causa da pandemia, Elaine, comprovando que você e as Gretas estão erradas. Vocês podem ficar repetindo seus mantras, mas todos estão vendo essas coisas.

Assim, é melhor você aguardar 2036. Pode ser que haja um colapso energético, como você diz, mas qual o problema se o importante é voltar à vida natural. Já pensou? Todos plantando e comendo o que colhem, as pessoas andando a pé, morando em vilarejos, você contando os dias em busca do mandante com marquinhas na árvore...

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