Tanto a gente pergunta que um dia eles respondem. Não me refiro, é claro, às fake news de 2018, os terríveis zaps hipnóticos de última hora que viraram a cabeça e o voto de pessoas que haviam dormido com a firme intenção de nos garantir mais quatro democráticos anos de kit gay, incompetência e corrupção.
Talvez por receio de nossas frágeis mentes não os suportarem, dessas eles nunca nos dão meia dúzia de exemplos concretos. Parecem velhos ao redor da fogueira, alertando em tom grave aos mais jovens sobre as criaturas que atacam os que se aventuram na floresta à noite. Criaturas, muitas, terríveis.
Com as ações concretas de Bolsonaro contra a democracia também era assim. Era. Um belo dia, esquecido de que o colocaram num cargo que exige uma circunspeção que não combina com o clima de acusações descuidadas das redes sociais, entre suas habituais dicas de livros e músicas, um senhor listou as tais ações.
Eram seis e estão por aí, em um post anterior. Uma delas era participar de manifestação onde havia um cartaz pedindo o fim do STF. Outra era apoiar o impeachment de um membro (no bom sentido da palavra) daquela casa. Uma terceira era alguém ter dito que ele teria pensado em mandar aviões voarem baixo para quebrar algumas janelas.
É como se as terríveis legiões da floresta se reduzissem de repente a seis tímidos anões que decidiram viver escondidos da sociedade. Uma assombração de parque de diversões, algo ridículo demais.
Outra coisa que eles nunca listavam eram os casos de corrupção do governo Bolsonaro. Que o mal campeia por lá eles não tinham dúvida, mas de especificar as maldades sempre fugiam. Mas isso foi resolvido pelo playboy invasor dono do Celta, que relacionou as roubalheiras do governo num tuíte recente. São quatro mais uma:
1 kg de ouro por verba do MEC 30 mil na cueca do vice-líder do governo 1 bilhão em propina de vacina 6 milhões em mansão do filho 29 milhões em salários de assessores fantasmas É o primeiro governo da história sem corrupção, tá ok?
O quilo de ouro está sob investigação. Há um longo caminho entre o prefeito que denunciou apresentar suas provas e, caso ele esteja falando a verdade, demonstrar que não se trata, como parece, de uma malandragem isolada na ponta.
Até hoje eu não entendi porque o cara que ganha várias vezes isso escondeu 30 mil. Era dinheiro destinado a um hospital ou escola? Se foi desvio, era parte de um esquema maior? Parece que não, tanto que a imprensa opositora largou o caso.
Quantos centavos saíram irregularmente na compra da vacina? Ah, nenhum. Havia alguém pedindo parte da comissão paga a um vendedor por apresentá-lo à pessoa certa do cliente. O negócio não foi fechado, mas o pedido é normal em termos comerciais, se o playboy trabalhasse saberia disso.
Pois é, o sujeito que é deputado e empresário há décadas deu entrada numa casa e financiou o resto. Onde está a corrupção? Em ter dinheiro para a entrada e moral para o banco achar que ele vai continuar se elegendo e ganhando bons salários?
O último eu desconsiderei devido ao retorno do plural. As fake news, as ações, as criaturas da noite, os fantasmas da assessoria. Faça uma lista, playboy. 29 milhões em mais de três anos dá uns 600 mil por mês, pelo menos uns trinta funcionários. Cite o nome de uma meia dúzia deles, diga onde estão.
Pois é, quando se aperta é algo assim que resta. Como dizem por aí, nunca foi tão fácil saber de que lado ficar. Claro que para os fundamentalmente canalhas também é fácil. Verificando onde falta a lama em que adoram chafurdar, eles são tomados de horror e correm imediatamente para o outro lado.
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