Famoso por desejar a morte do presidente, Hélio Schwartsman conta, na Foice, ter descoberto há pouco um livro (Not Born Yesterday, de Hugo Mercier) que lhe ensinou que o poder das fake news é limitado e "ninguém ainda inventou meme ou frase mágicos que façam um bolsonarista votar num petista ou vice-versa".
Ele já devia ter desconfiado disso ao perceber que ninguém mostrava exemplos das terríveis fake news que teriam virado a última eleição a favor de Bolsonaro. E, pelo título do livro, é capaz de também ter aprendido que não foi agora, de alguns pouco anos para cá, que passaram a mentir em eleições.
Só falta Hélio admitir que o atual combate contra as fake news visa apenas manter a mentira sob controle de quem não consegue dominar as redes e querem censurá-las. Mas ele tem tempo, ainda deve estar ruminando o livro sobre o qual diz ter falado pela primeira vez em sua coluna anterior, dias atrás.
"Há pouco", "dias atrás", acabamos de usar as duas expressões que se equivalem sem problema algum. Pelo menos era assim até ontem, quando Bolsonaro se referiu à conversa que teve com Putin há alguns dias e um jornalista entendeu que o "há pouco" só podia se referir a algumas horas.
O sujeito perguntou para tirar a dúvida? Que nada. Como esses caras não estão interessados nos fatos, mas apenas em usá-los como desculpa para enfiar uma narrativa em que o presidente aparecerá como vilão, bastou-lhe perguntar a si mesmo como teria acontecido a conversa com o colega russo.
E foi assim que a fake news de que Bolsoanro havia falado com Putin por telefone espalhou-se pela desatenta e/ou desonesta imprensa brasileira. Acostumado a deturpar suas deturpações, o pasquim petista 247 chegou a ilustrar sua "matéria" sobre o tema com a foto acima, que mostra Putin observando Bolsonaro num telão.
Faltou honestidade até para pedir desculpas. O petista Jamil Chade, um dos tontos que levou a sério os memes sobre Bolsonaro Nobel da Paz, conseguiu escrever que alguém no Planalto lhe disse que a culpa era do presidente que havia se expressado mal. Quem disse? Ah, foi uma "fonte secreta", uma das formas dessa gente mentir fingindo que não.
Agora, calcule se isso envolvesse o outro lado do espectro político. Era capaz do caso ser usado pelo Barroso como exemplo das ações antidemocráticas do presidente. Afinal, se até um terceiro dizer que ele pensou em mandar avião quebrar janela serve, imagina quando se trata de algo que aconteceu de verdade.
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Voltando às redes, vimos que, irritado com sua costumeira enrolação, um pretenso líder dos caminhoneiros acabou rompendo através delas com o candidato Sérgio Moro. Ele queria uma proposta concreta e Moro, limitado a vender a falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro, só dizia que não podia agir como ambos... Terminou em briga.
Mas é mesmo difícil manter propostas eleitorais porque as coisas raramente se passam como se imaginava no início. Quem esperaria uma pandemia ou uma guerra? Só o que se pode esperar é que o eleito mantenha uma linha geral no que está sob o seu controle, por exemplo não permitindo a corrupção.
E o interessante dessa história é que Moro termina sua mensagem desejando "pás e bem" ao líder caminhoneiro. Serão essas pás uma referência ao enterro da promessa de que passaria o presidente até o final de fevereiro?
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