terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Ódio ao contraditório

Eu ia tratar do tema de outro ângulo, mas o artigo que Tia Reinalda publicou ontem no UOL (Telegram tem de ser banido...) é tão asqueroso que merece atenção. Titia inicia sua defesa da censura usando o tal diálogo entre Monark e Kim para afirmar que "criou-se um consenso de que nem tudo pode ser dito".

Não houve consenso, houve uma enorme gritaria de parte da sociedade, mas nenhum deles será preso pelo que disse. Se mantivesse um pouco de sua lógica, a entidade maligna que tomou o corpo do antigo Reinaldo Azevedo veria aí, quando muito, uma prova de que as próprias redes punem os abusos de opinião (digamos assim) nelas cometidos.

Titia segue dizendo que as redes são lentas para emitir os tais alertas de informações falsas sobre - que combinação eloquente! - "saúde e política". E aí passa a criticar os bolsonaristas que as divulgariam e as próprias redes, que "não agem" porque querem lucrar: "É aceitável que uma empresa lucre com mentiras que matam ou que corroem a democracia?"

Não, responde a entidade ao solicitar a manifestação de, entre outros, "organizações sociais, ONGs, sindicatos, universidades" que o espírito que habitava aquele corpo sabia dominadas pela esquerda. Imaginem a CUT (sindicatos) como o PT queria em sua antiga tentativa de censura da imprensa, definindo o que pode ser dito ou não.

Titia parece particularmente irritada com o fato da vacinação das crianças estar "atrasada", sem explicar como as mesmas redes que não impediram os pais de se vacinar agora os levem a expor os filhos à doença. Não lhe ocorre que as pessoas possam pensar e decidir por conta própria. Ela definiu que é preciso vacinar os pequenos e quem a contestar deve ser punido por estímulo ao "infanticídio".

Barroso e Telegram

Mas o ponto é o maravilhoso Barroso e "sua excelente entrevista ao Globo". Aquela em que o defensor do uso universal do regimento interno do TSE ameaçou banir o Telegram do Brasil porque "na minha casa, entra quem eu quero e quem cumpre as minhas regras".

Titia exultou com a ameaça que nos igualaria a portentos democráticos como a China, pois "a mentira — que não se confunde com a divergência de opinião — tem de ser tirada do ar" e "a depender da gravidade e sendo crime, os autores têm de ser punidos". E ainda citou as palavras do mesmo Barroso no julgamento da chapa Bolsonaro-Mourão pelas falsas denúncias da autodenominada "putinha do PT":

"Essas milícias digitais continuam se preparando para disseminar o ódio, para disseminar conspiração, medo, influenciar eleições, destruir a democracia. Se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado. E as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia por atentar contra as eleições e a democracia no Brasil."

"Convém não duvidar" diz a entidade, esfregando as mãos com a possibilidade de eliminar seus inimigos por canetadas que dependem apenas de interpretações subjetivas e nunca atingem o lado político a que agora serve. Nem uma palavra sobre o fato das investigações mostrarem que a putinha mentiu e quem mais usou os expedientes por ela denunciados foi o pessoal da sua turma, a mesma de Titia.

Com um cinismo a toda prova, Titia ainda faz questão de encerrar seu libelo em defesa da censura (de um lado, de um lado) relembrando o uso político das vacinas e utilizando um tom tão grandiloquente quanto canastrão:

"Que o Congresso brasileiro se encarregue de detalhar uma legislação que mande para a cadeia a canalha que mente sobre vacinas ou eleições. Não o fazendo, a Constituição dá o devido suporte ao STF e ao TSE para agir. Inclusive para banir — AGORA, NÃO DEPOIS — o Telegram. Mobilizem-se, defensores da ordem democrática!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário