Nós já falamos sobre o tema abaixo ao comentarmos o que disse um tal Christian Lynch, apresentado dias antes como grande analista do "bolsonarismo". Mas aí é que está, nós falamos, será que isso foi suficiente para quem levou as classificações do pensador esquerdista a sério? Na dúvida, resolvemos desenhar.
O cerne da questão, ao qual nos limitaremos agora, está no seguinte trecho do Chris:
Quando se diz que Bolsonaro é popular, convém anotar em que estrato social. Não é o "povão", ocupado com coisas que ele despreza como fome, saúde ou educação. Esse é lulista. O público de Bolsonaro é sobretudo a classe média baixa, antigamente chamada "pequena burguesia". É uma gente acima das carências urgentes do cotidiano, mas ressentida com sua condição social frente aos superiores e que descrê da possibilidade de ascender.
Ou seja, ele diz que Bolsonaro é popular entre um pessoal obviamente de mal com a vida, que, num mundo em que muitos ganham dez, cem ou mil cifrões, precisa ralar muito para levar uns cinco cifrões para a casa. Desenhando:
O sujeito do povão que idolatra o conhecido condenado ganha ainda menos, chutemos uns dois cifrões. Mas não é tomado pelo odioso ressentimento que corrói o bolsonarista e, portanto, apesar de todas as dificuldades, é relativamente tranquilo e feliz:
Mas o Lynch fala de estratos em que há variações internas. Assim, considerando que seu raciocínio é válido, os bolsonaristas se tornam cada vez mais ressentidos conforme ganham menos e têm mais gente acima deles na escala dos cifrões:
A mesma variação ocorre no estrato lulopetista. O sujeito é minimamante tranquilo e feliz quando não tem quase nada e se torna mais otimista conforme vai melhorando um pouco de vida (por obra e graça do eterno presidiário, é claro):
Até aqui, tudo bem. Mas esses dois grupos não vivem em planetas diferentes. Eles estão no mesmo país, podem morar na mesma rua. E, ao reuni-los, a gente percebe com clareza qual é o problema do raciocínio do Chris. É só observar o desenho:
Imagine que o sujeito era um bolsonarista ressentido que ganhava seis cifrões e passa a descer na escala, ganhando cada vez menos e se tornando cada vez mais ressentido. Ok, isso funciona do seis até o quatro. Mas, quando ele desce mais e chega aos três cifrões, torna-se repentinamente lulopetista e feliz, muito feliz, passando do máximo do ressentimento para o máximo da tranquilidade.
Inversamente, o lulopetista que era tranquilo e feliz com um cifrão e chegou ao máximo desses sentimentos com três cifrões, se torna ressentido ao máximo (e bolsonarista) no dia em que consegue ganhar quatro cifrões.
Em que instante se dá essa mudança? Três e meio? Um pouco mais, um pouco menos? Qual é o limite exato dessa transição? O que ali acontece que faz tudo se alterar tão bruscamente? São perguntas como essas que a teoria do Lynch não responde e quem a admira porque atende aos seus preconceitos ilógicos nem sequer percebe estarem ali embutidas. Desenhando, talvez passem a perceber.
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