sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Diálogos filosóficos

Basta dizer que de laico ela entende para que todos saibam que estamos falando da filósofa Márcia Tiburi. Pois a moça voltou a mencionar o tema ao escrever em seu Twitter: "No Brasil democrático o Estado será laico na teoria e na prática. Chega de religiosos ocupando cargos de poder."

Mal isso caiu na rede e gerações de filósofos se agitaram nos túmulos. Alguém precisava puxar a orelha de quem estava envergonhando a categoria desse modo, mas como fazê-lo se ela foge quando percebe que será contestada? "Até do Kim", salientou Aristóteles. Por fim, Sócrates pediu que deixassem com ele e a visitou naquela mesma noite, em sonhos.

- Márcia, boa noite, você poderia me explicar o que é esse negócio de "Estado laico"?

- É fácil. No seu tempo o governo se misturava com o culto aos deuses. E às deusas. Mas depois a humanidade evoluiu e uma coisa foi separada da outra.

- Ah, entendi. Mas por que você acha que religiosos não poderiam participar do governo?

- Porque o Estado é laico, ora!

- Sim, mas, se as palavras não perderam seu sentido, não é ateu ou anti-religioso. Qual seria o problema do cidadão cultuar seus deuses em particular e, ao mesmo tempo, participar da administração pública segundo as regras laicas que nesta devem vigorar?

- Não, não pode! As ideias que lhe incutem nos cultos, os valores que ele lá abraça, acabam influenciando, ainda que sob uma aparência formalmente laica, suas decisões.

- Nesse aspecto eu concordo com você, a visão de mundo do administrador acaba por se mostrar em muitas de suas ações. Mas não lhe parece que isso é inevitável, ainda que não chamemos essa visão de religião?

- Como assim?

- A questão é que cada um tem seu conjunto de valores e age de acordo com eles. Isso vale para o evangélico, para o comunista, para todos, até para quem não se filia a nenhuma corrente de pensamento organizada. Nesse sentido, todos têm sua "religião" e se torna impossível evitar que "religiosos" ocupem cargos de poder.

- Pera aí, estou sentindo que você está querendo me confundir.

- Não, Márcia, eu só quero que você pense, que se comporte como a filósofa que diz ser. Lembre-se que você tem uma tradição milenar a defender.

- Ah, eu estou começando a compreender. Vocês, machos brancos opressores, fizeram merda durante séculos e agora querem jogar a bomba em cima de uma mulher que ousou entrar em seu clube fechado. Seu misógino, seu fascista.

- O que é fascista? O que defende a corrente de pensamento à qual ele se filia?

- Basta! Fora! Saia já daqui! Juremir, seu filho da puta, onde é que você se escondeu? Garanto que foi você que deixou esse cara entrar!


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