No dia em que a indicação do André Mendonça foi abordada no antigo blog, a gente dizia torcer para que a sua aprovação parecesse difícil e demorasse mais um pouco. E que a maior possibilidade era que a questão se estendesse até o final do ano, com o terrivelmente tomando posse pouco antes do Natal.
Deu certo, ele se tornará ministro nas próximas semanas. E todos os evangélicos do país viram como ele sofreu preconceito por se dizer um deles - ou AM é técnica e politicamente pior que algumas completas mediocridades que lá estão? - e quem lutou para colocá-lo onde agora está.
Não só os evangélicos, pois em certos assuntos há hoje um bom número de pessoas de fora que fecha com eles. Mas só aí você já tem pelo menos um terço da população (40% na conta do novo ministro) que tende a votar como em 2018, em função dos "valores" que tanto incomodam os que não os têm.
Será André um ministro de Bolsonaro? No sentido de que vai fazer tudo o que o presidente queira ou sempre seguir uma linha próxima deste, é claro que não. Aliás, acho que é bobagem esse negócio, que fazem com o Nunes Marques, de achar que o cara que lá entra tem sempre que votar de determinado modo ou será um traidor.
Há casos em que, como em qualquer câmara do interior, o novato precisa compor com quem lá está em algumas votações. E há casos em que a lei favorece quem a gente não gosta. Qual seria, por exemplo, a justificativa legal para manter o bloqueio dos bens do eterno presidiário de Curitiba? Uma vez que o "descondenaram", acho que não existe.
Mas se não será um ministro de Bolsonaro, que no máximo ficará por lá mais cinco anos, o jovem André será um ministro evangélico, comprometido com quem, além do presidente, foi à luta para aprovar seu nome. É sempre bom ver essas coisas pelos olhos dos inimigos, neste caso pelos de um artigo publicado ainda ontem no El País nacional:
(...) a bancada da Bíblia no Congresso agiu. Os 114 deputados e 13 senadores desse grupo levaram pastores a Brasília para se reunirem com os 81 senadores votantes. Fizeram o mesmo em seus estados. "Os senadores sempre vão em nossas igrejas pedir voto. Agora, foi nossa vez de pedir a eles", resume o deputado e pastor da Assembleia de Deus Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).
Os evangélicos temiam perder a oportunidade de erguer uma barreira de contenção no Judiciário para temas progressistas (...) "Nos últimos anos, a esquerda saiu do Executivo e perdeu espaço no Legislativo. Ela sempre recorreu ao STF, que não tem nenhum ministro conservador. Com o Mendonça lá, temos a garantia de que ao menos o pedido de vistas ele fará em temas caros para nós, conservadores", explica Cavalcante.
(...) Durante toda a sabatina da CCJ, que durou mais de seis horas, ao menos cinco deputados e três pastores acompanharam os questionamentos dentro do plenário da comissão. Era um esquema de revezamento, quando um deles precisava sair, entrava outro parlamentar ou religioso. "Estamos sempre na tentativa de virar votos", disse Cavalcante.
É previsível. Mesmo que a idade limite volte a ser 70, André, hoje com 48, ficará no STF por mais de duas décadas e continuará a frequentar o meio evangélico. Nesse tempo, esse grupo se tornará majoritário e as pautas conservadoras se fortalecerão. E é mais pelo alinhamento com essa vertente do que por quem ele vai mandar prender ou soltar na próxima semana que sua entrada é importante.
Talvez ele seja apenas um. Podem vir outros, tudo começa por ter um presidente disposto a indicá-los. Os evangélicos sabem disso. Esse grupo aguerrido e nada pequeno que lutou por seu nome sabe lutar melhor ainda internamente. E sabe também a quem deve apoiar agora, no próximo ano. Isso também é previsível.
Há quem pense que é fácil mudar esse quadro. Há quem prefira acreditar nas pesquisas de encomenda que rolam soltas por aí, inclusive nas que garantiam que os senadores não aprovariam André Mendonça. Aí já não dá para discutir. Isso é questão de crença e cada um tem a sua, a gente precisa respeitar.
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