Não tem sido dada a devida atenção ao sumiço de uma enorme parcela do discurso petista. Aquela de que o condenado por unanimidade nas três instâncias técnicas teria melhorado a vida dos pobres como ninguém através "dos programas sociais como..." - e aí o plural sempre virava singular - "... o Bolsa Família".
Pois é, acabou a grande obra do petismo, pela qual o chefão do Tammany Hall se jactava pleno de soberba e queria ser reconhecido mundo afora. Mas que ele surrupiou do FHC e realmente não queria manter.
O programa petista era o Fome Zero, um título de marketing ao qual eles tentaram dar substância após a eleição sem o menor sucesso. A Gisele Bündchen deu um cheque de 50 mil para a iniciativa e meses depois o incompetente do José Graziano, chefe do troço, ainda não havia aberto uma conta no banco para depositá-lo.
Era uma bateção de cabeça atrás da outra, uma das quais eu testemunhei através do contato com um grupo petista que procurava soluções para o caso. A ideia dos caras era instalar maquininhas de cartão em lojas em que o usuário passaria o cartão Fome Zero para usar seu crédito em alimentos.
Isso em 2003, quando essas máquinas eram bem mais caras e necessitavam de uma rede de comunicação própria e de visitas presenciais para qualquer reprogramação. Imagine instalá-las na cidadezinha em que o dono do mercado não tinha nem telefone. E eles ainda queriam ligar a revenda do produto à sua aquisição, para estimular a produção local.
A coisa era tão inviável que chegou um ponto em que nós perguntamos por que eles não continuavam usando os cartões do FHC. Porque, foi a resposta, o beneficiário poderia usar o dinheiro para comprar cachaça. Ou roupas, ou qualquer outra coisa. Fome Zero, já dizia o nome, tinha que ser exclusivo para alimentos.
Deviam existir outros grupos como aquele, com propostas tão inteligentes quanto. E nessa toada eles foram durante quase um ano, até que, premido pela própria inépcia, o sindicalista malandro assinou, em 20 de outubro, a MP 132, pela qual o Bolsa Escola e o Vale Gás viravam uma coisa só e passavam a se chamar Bolsa Família.
Foi o que salvou a lavoura do cachaceiro, nem usar a ignorância do povo para se vender como o responsável pelo boom das commodities foi melhor. O BF atingiu 25% da população (no Nordeste quase 50%) e 80% desse pessoal votava neles. Só aí eles tinham uma base de 20% do total, mais ou menos o que Bolsonaro tem entre os religiosos.
E ele não queria mesmo fazer, há provas de sobra. Não que isso tenha importância, o que conta são os atos do governante, não o que lhe passou pela cabeça. Eu só queria saber é se aquele pessoal que o idolatrava pelo (sic) "programas sociais" agora festejará a versão turbinada da sua adaptação. Bolsonaro Nobel da Paz?
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