Tempos atrás, vendo aquela série de pesquisas obviamente fajutadas, nós comentávamos que as empresas do ramo estavam se igualando ao Vox Populi. Para completar a bagunça, agora é o Marcos Coimbra, dono do Vox, quem resolveu andar em sentido oposto e conseguiu falar coisa com coisa em seu último artigo para o Esgotão.
Diz ele que seus pesquisadores saíram por aí apresentando afirmações que os pesquisados deveriam classificar em uma destas três opções: a) verdadeiras, acreditavam; b) verdadeiras, mas exageradas; c) mentirosas, não acreditavam.
As afirmações em si são um primor de direcionamento esquerdista, coisas como: A economia brasileira vai mal? A pobreza aumentou? Passamos por uma pandemia? Há corrupção no governo Bolsonaro? As mulheres são tratadas desigualmente no Brasil? O preconceito racial está crescendo entre nós?
Num exemplo específico, 73% dos entrevistados disseram considerar verdadeiras as notícias a respeito do "aumento do custo de vida e dos preços de alimentos, gasolina e energia". Mas 18% as classificaram como exageradas e 5% como mentirosas. Assim, 23% do pessoal não acredita na inflação ou não a considera relevante.
Coimbra não explica como combinou as respostas para classificar os entrevistados, mas diz que quase um terço deles teria pendido para opiniões como essas. E como praticamente todo esse terço se declara eleitor de Bolsonaro, ele conclui que:
Essa gente é suficiente para inviabilizar outras candidaturas à direita. Se acreditam que o Brasil não tem problemas ou que, pode até tê-los, mas não são graves, por que razão arriscariam trocar o capitão por outros nomes, menos conhecidos ou em quem confiam menos? Ainda mais porque acham que ele "não faz mais por culpa do sistema que não deixa", um mantra que qualquer bolsonarista tem na ponta da língua (...) Por isso, é tão pequeno o espaço para a tal terceira via.
Agora, nossas observações.
Até o Vox Populi! O primeiro fato a ressaltar é que o feitiço da invisibilidade está perdendo o efeito e aquele núcleo bolsonarista que só magos poderosos como nós conseguiam ver está voltando a aparecer nas pesquisas.
Um terço? Talvez seja, um terço é bastante gente e pode parecer mais caso se manifeste enquanto os demais se calam. Mas como o Vox Populi sempre errou a favor da esquerda, a tendência é o que o número real a favor de Bolsonaro seja maior.
Outra indicação disso é que há quem, como eu, considere a inflação preocupante, mas pretenda ir de Bolsonaro. Religiosos podem concordar com tudo o que o Coimbra perguntou e votar no Capitão porque ele está mais próximo de sua visão de mundo. Outro podem escolhê-lo pelo Auxílio Brasil e assim por diante.
Como do lado esquerdo há um eleitorado considerável, o espaço da terceira via é realmente estreito. Isso não significa que a sua ideia de chegar ao segundo turno contra a esquerda e herdar os votos bolsonaristas está errada, mas que o grande problema de alguém como Moro é passar do primeiro turno.
Há, evidentemente, bolsonaristas mais e menos convictos. Pela lógica, Moro deveria estar mirando nestes últimos para encorpar seu eleitorado. Mas, ao invés de fazê-lo tentando se apresentar como o mais preparado para combater a esquerda, está repetindo o que Alckmin fez em 2018 e atacando Bolsonaro.
Pior ainda. Como seu discurso parece limitado ao combate à corrupção, ele não pode admitir que esta sumiu no atual governo (ou se tornou irrelevante, pois sempre há alguém pegando uma graninha num canto). E aí surgem propagandas como a do MBL, equiparando a rachadinha do presidente (que nem existe) ao Mensalão e ao Petrolão.
Essa dose excessiva de agressividade e desonestidade intelectual pode conquistar eleitores da franja bolsonarista? Com Alckmin teve o efeito contrário. E isso pode se repetir agora. Pelo menos para mim é assim, Moro se torna menor no meu conceito cada vez que eu vejo uma asneira mentirosa dessas.
Ele começou lá em cima, como o sujeito que foi decisivo para colocar o criminoso Lula na cadeia. Mas aí, como dizia Vicente Celestino, foi caindo, caindo... Que tome cuidado para não acabar dividindo a garrafa de pinga com o Chuchu em algum boteco.
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