O comentarista reconhece as falhas do time que toma 1x0 nos primeiros minutos de jogo, mas o elogia quando ele vira para 4x1 e passa a dar olé na continuação da partida. Já o torcedor que festejava no início se contorce de raiva ou tenta contorcer os fatos quando vê o adversário virar o jogo.
Não foi diferente com a vacinação. Embora afetando consternação, nossos anti exultaram por dentro quando as dificuldades da Astra Zeneca atrasaram em semanas o início da nossa e obrigaram o governo a começar tropegamente com um produto de segunda linha.
Nos primeiros meses, chegavam a insinuar que "o mundo" já estava vacinado e só aqui se andava devagar. Mas o time que saiu atrás se recuperou e chegou à zona da Libertadores. Se deixarmos de lado a China, onde nenhum dado é confiável, nos tornamos os primeiros entre os países com grande território e população.
Alguns ainda tentaram dizer que as vacinas caíam aqui por mágica, contra a vontade do responsável final pelo processo. Mas o argumento ridículo foi sendo abandonado conforme foi ficando claro que falar de vacinas acabava levando o povo a se informar sobre a realidade e perceber o quanto eles a deturpavam.
Pelo mesmo motivo, esqueceram dos mortos. Quem chora com sinceridade por dois mil ao dia deve fazê-lo por mil ou duzentos. Porém suas lágrimas hipócritas secaram tão logo sua eficácia política se foi. A jogada agora é dizer que as dificuldades internacionais são apenas locais e não decorrem do seu amado "fique em casa". Pandemia? Que pandemia? O bonito é ver os estádios lotados e criticar o Auxílio Brasil.
Enquanto isso, do outro lado do oceano
Na Europa, às vésperas do inverno, surgem taxas recordes de infecção por covid. Bares e restaurantes são fechados num país, os apelos à vacinação se repetem em outro e até o confinamento compulsório para quem não se vacinou é aplicado em um terceiro.
Mas o busílis é que boa parte dos afetados tomou duas ou mais doses. Na Alemanha eles são quase metade dos internados. Portugal, onde 88% do povo está com o esquema completo, é um dos que sente o problema. Uma conclusão é que essas vacinas parecem ser como as aplicadas contra a gripe, que precisam ser tomadas de novo a cada ano.
Mas qual seria o prazo de validade do caso atual? Ele se manterá? Não corremos o risco da vacina não resolver nada daqui a pouco? As manchetes de jornais alemães dizem: "Efeito da vacina está se esvaindo", "Vacina ainda funciona bem o bastante?", "A proteção imunológica ainda é suficiente para superar esta quarta onda?".
Nos EUA, o WSJ ecoa as preocupações: "embora os dados mostrem que as pessoas vacinadas têm uma probabilidade consideravelmente menor de contrair a doença, também está ficando claro que essa vantagem está diminuindo com o tempo e a redução gradual da resposta imunológica desencadeada pela vacina".
Se o oceano for atravessado
Os questionamentos são razoáveis. Nada é mais científico que duvidar e ninguém pode ter certeza sobre os limites ou possíveis efeitos danosos das atuais vacinas. O problema é que nosso rebanho anti, com sua dificuldade para admitir que outros raciocinem, transformou "a vacina" numa espécie de ídolo que só poderia ser elogiado.
O que essa gente fará se o problema persistir e chegar aqui? Defenderá, como já fez esses dias, a rigorosa punição do infiel que repetir em voz alta manchetes como as que acabamos de citar? Continuará a gritar que "contestar a vacina mata as pessoas"?
Meu palpite é que, como na vacinação em si, fingirão que nunca disseram as asneiras de antes. Se der, repetirão que o problema é só nosso e a solução é todos ficarem em casa. Depois da final do campeonato e do carnaval. E sem auxílio extra do governo porque isso poderia beneficiá-lo em um ano eleitoral.
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