quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Guerreiros híbridos em êxtase

Não é porque o camarada é louco que não pode acertar de vez em quando. Lançada pelo Piero Leirner e ardentemente abraçada pelo Romulus Maya, a teoria da "guerra híbrida" acabou ganhando adeptos até entre gente como Emir Sader, que os esquerdistas consideram um grande pensador.

E, sem entrar em detalhes, eu acho que ela está certa quando diz que os nossos generais decidiram, anos atrás, tomar o controle do país numa espécie "bolivarianismo de direita" (termo meu). Em algum momento eles apostaram que Bolsonaro poderia ser usado para chegar oficialmente ao poder e o trouxeram para o esquema.

Claro que na mente do Romulus os generais se transformaram em reptilianos que, apesar de subordinados aos EUA, controlam tudo o que acontece no país. Inclusive a Globo e o STF, que só fingem bater em Bolsonaro para que ele pareça um louco que quer incendiar a casa e o pessoal precise apelar à tutela militar.

Um exemplo que eles adoram citar é o das urnas eletrônicas, que seriam controladas desde a fabricação pelos militares. Para evitar que estes as fraudassem, a esquerda deveria exigir o voto impresso. Mas os espertos manipularam psicologicamente a situação para fazê-la defender exatamente o contrário.

O plano era simples. Bolsonaro faria campanha pelo voto impresso; a esquerda, que reage a tudo que vem dele com ódio mecânico, votaria contra e diria que confiava cegamente no STF; e este acabaria por chamar os militares para dar segurança ao sistema. E foi mais ou menos isso que aconteceu.

Outra previsão dos guerreiros é que a chapa dos militares em 2022 seria Moro - Santos Cruz. Lula, chantageado por suas pendências judiciais, seria usado como fantoche do mal até onde fosse necessário. E Bolsonaro renunciaria ou seria abatido por um enorme escândalo que faria seu eleitorado migrar para o novo escolhido.

Assim, agora que Moro voltou e Santos Cruz se colocou à disposição, eles já estão dizendo que acertaram de novo. Mas eu tenho duas dúvidas básicas sobre o assunto.

A primeira é que é difícil imaginar um plano concebido por sofisticadíssimos manipuladores de mentes sendo inteiramente decifrado pelo Romulus, que acredita que sua live é derrubada pela CIA e dizia que Lula seria sancionado pela máquina de raios X na cela de Curitiba até o Natal de 2018.

A segunda é que eles nunca explicaram muito bem por que os generais deveriam se desfazer do peão Bolsonaro agora. Se ele serve, que sirva mais quatro anos. A tese é que o Capita cria um clima exasperante e o pessoal se sentiria aliviado com um "Bolsonaro educado" como Moro. Mas essa exasperação é deles, esquerdistas.

Que os manipuladores tenham cevado Moro não é impossível, mas que grandes estrategistas seriam esses que só tem um plano de ação? Muito coisa inesperada aconteceu (eis aí a pandemia) e vai acontecer, não faz sentido entrar na guerra com uma única opção, decidida há anos. Nem os reptilianos devem fazer isso.

Uma hipótese mais razoável seria ter as duas opções para decidir em qual se deve apostar no último instante conforme a tendência popular, pois nem os paranoicos guerreiros híbridos acreditam numa manipulação das urnas em escala gigantesca. Como em qualquer guerra, é preciso ir se adaptando ao terreno e aos acontecimentos.

Mas os amiguinhos viram Moro chegando e entraram em êxtase com a aparente comprovação de suas teorias. Melhor, para eles, só se Lula ainda conseguisse vencer tudo isso e chegasse lá de novo.

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