sábado, 20 de novembro de 2021

Estética nazi

Foi ou não foi Leopoldo Heitor? A maioria aqui tem mais de 50 e, portanto, lembra de coisas que há meio século eram notícia de jornal ou fatos recentes que os adultos haviam vivido e discutiam entre si. Mas para os mais jovens isso é tão longínquo como era para nós ver um avô falando do final da Primeira Guerra Mundial.

O final da Segunda Guerra é ainda mais distante para quem vive hoje, passaram-se nada menos que 76 anos de lá para cá. Por mais que ela tenha trazido temas inéditos como bomba atômica e holocausto, qualquer dia Hitler será uma figura do passado como Napoleão ou qualquer outro.

Desse modo, não é tão surpreendente que, como demonstrou recente pesquisa, 45% dos britânicos não saibam quantos judeus foram assassinados pelo nazismo e outros 5% nem acreditem que isso aconteceu. Eles não são negacionistas, são apenas jovens.

E o mesmo se pode dizer sobre quem criou ou trabalhou no Unfair, bar noturno de Osaka no estilo "host to host", no qual os atendentes são pagos para também conversar com os clientes e entretê-los. Da roupa dos garçons ao rótulo nas garrafas, tudo ali lembrava o nazismo.

Coisas similares já aconteceram com bandas musicais japonesas ou em seus festivais de cosplay. Em todos esses casos houve protestos e o pessoal acabou se desculpando e trocando de tema, mas nenhum deles o utilizou por identificação com o nazismo. Era algo estético, eles se sentiam mais ou menos como o Abba ao cantar Waterloo.

Para os japoneses também conta o fato da cruz gamada (invertida) ser um tradicional símbolo de boa sorte, amplamente encontrado no Oriente. Ao contrário do que acontece no Ocidente, ela não pode ser proscrita. É mais provável que o nazismo seja esquecido de vez e seu significado milenar se mantenha.

Assim é o mundo, o tempo passa e o que parecia que ninguém jamais esqueceria acaba solenemente ignorado alguns anos depois. E não há como ser diferente, seria impossível que uma nova geração carregasse o fardo de tudo que foi importante para as anteriores. Cada qual com seus problemas, aqui também vale o mote.

A propósito: será que foi mesmo o Leopoldo Heitor? Lá em casa achavam que sim. Eu nunca esqueci dele e da Dana de Teffé pelos nomes, que me pareciam diferentes, curiosos, teatrais. O (provável) crime era algo distante, indistinto da ficção. Era só uma questão de estética.

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