Como ele gostaria de trocar a vulgar capa preta por aquelas roupas com detalhes em ouro e pedras preciosas. Como adoraria desfilar sua magnificência pelos palácios maravilhosos e os bosques esplêndidos, vendo duques e duquesas, príncipes e princesas, se inclinarem à sua augusta passagem.
Assim é nosso herói civilizador, aquele que os deuses escolheram para nos elevar do estado semi-animalesco em que nos encontrávamos até um novo e antes inimaginado patamar. Quantas mudanças ele trouxe, quantos aperfeiçoamentos tivemos a oportunidade de experimentar!
Julgávamos que os que julgam não deviam se manifestar fora dos autos e precisavam se conduzir com certo recato. Hoje sabemos que eles devem dar palpites sobre tudo, mostrar de que lado estão nas eleições que conduzem e transformar tribunais em locais de festas milionárias com cantores profissionais.
Acreditávamos que um líder espiritual devia manter um razoável controle sobre suas paixões e respeitar seus próprios fiéis. Ele nos ensinou que guru admirável é o que enche o bolso de grana e passa o rodo nas seguidoras psicologicamente mais frágeis.
Tínhamos certeza de que alguém capaz de matar crianças em incêndios por motivos políticos não deveria mais sair da cadeia. Ele defendeu a pureza de alma desses acusados e mostrou que realmente perigosos são os que invadem prédios com Bíblia na mão ou escrevem em estátuas com batom.
Pensávamos que regimentos internos serviam apenas para resolver problemas internos de um departamento. Ele esclareceu que o sol nunca se põe no império desses documentos, pois sua abrangência se estende planeta afora por meio dos serviços que o departamento utiliza.
E o que dizer do único programa de computador perfeito? Aquele cujo resultado não precisa de auditoria porque seu código e suas quase 600 mil cópias não podem ser objeto de qualquer tipo de malandragem. Aquele que o resto do mundo admira e gostaria de copiar, mas não tem capacidade para fazer igual.
Poderíamos passar o dia relembrando os feitos de nosso salvador. Só lhe falta, na verdade, sair um pouco do ambiente palaciano e experimentar o carinho da população comum, agora finalmente civilizada. Mas isso também está sendo providenciado e já podemos adiantar alguns detalhes do plano.
O apoteótico final será em São Paulo, onde, usando suas mais ricas vestes, o herói desfilará pelo rio Tietê numa embarcação inspirada na de Cleópatra, acenando majestosamente para as multidões de manés apinhados à sua espera sobre as pontes da cidade. E estes, em êxtase, lhe responderão:
- VTNC, palhação!
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