sábado, 15 de julho de 2023

Em busca da sanidade perdida

Está na revista da Elaine Bruma, a Sumaúma, mas quem conta tudo é a gaúcha Jaqueline Sordi. O novo inimigo da Amazônia é Indiana Jones, que, no mais recente filme da série, se embrenha na selva em busca de uma relíquia valiosa e acaba encontrando uma cidade com pirâmides construídas por extraterrestres.

Eu estava até pensando em ver, mas a Jaque cortou meu embalo. Ela não, os arqueólogos conscientes que ela entrevistou. A arqueologia de verdade, eles informaram, não é assim, uma aventura de um herói com chicote na mão, é um trabalho de equipe, demorado e cuidadoso. Tudo no filme é mentira.

Puxa, mas por que será que eu gostava do Indy? Fácil, isso é fruto da mentalidade colonialista que tenta mostrar os povos originários como primitivos, inferiores ao branco europeu ou estadunidense. Introjetada no meu caso, pois como brasileiro eu deveria defender a nossa gloriosa herança indígena ou coisa parecida.

Aliás, você notou que em todo filme do tipo tem um nativo bonzinho que ajuda o macho branco ocidental a se dar bem? Esse é o cantinho mental que eles nos dão no filme. Você torce pro herói, mas o objetivo é que você se comporte como o ajudante que despreza suas próprias raízes para ganhar a simpatia do "civilizado".

E é por motivo semelhante que eles confundem tudo, fazem brasileiro falar espanhol, inca seguir deus asteca, índio equatoriano parecer tribo africana. Isso é proposital, destinado a negar a rica identidade cultural de nossos povos e passar a ideia de que essa gente é tudo a mesma coisa, tudo inferior.

Bom, mas os ETs são ainda mais evoluídos que os estadunidenses, se eles decidiram contatar a turma da floresta é porque a consideraram mais interessante que a europeia, certo? Santa ingenuidade, é o contrário, os extra só aparecem na história para ressaltar que os primitivos não seriam capazes de construir nada daquilo sozinhos.

Era isso, pessoal, confesso que até ontem fui um desses que fica torcendo para o imperialista e não imagina como os arqueólogos trabalham, mas graças à revista da Bruma acordei e quis compartilhar essa experiência libertadora. O dinheiro do meu ingresso eles não pegam mais. Indiana Jones pra mim acabou.

Afinal, se ele fosse bom mesmo, já teria descoberto quem mandou matar a Xatielle.


Ah, uma dúvida. Como será que se encaixam na estratégia aqueles episódios sobre a arca da aliança e o cálice sagrado? Aquilo envolve a própria civilização ocidental, não uma tribo perdida na floresta. Será que eles fazem isso só para disfarçar e a gente pensar que tudo não passa de inocentes filmes de aventura?

Talvez a Jaque explique num próximo artigo.


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