segunda-feira, 17 de julho de 2023

Bons companheiros

Coisa bonita é o coleguismo, a solidariedade entre os da turma. Ele deve ter dito algo como: "Ai, gente, desculpa, esqueci que os manés ainda têm direito de criticar, perdi a cabeça e acabei confirmando o que todo mundo sabia." E eles, em uníssono, responderam: "Deixa com a gente, mano, vamos fazer uma ação diversionista. É nóis!"

A conversa foi pela internet, aquele meio de comunicação que, por ser usado por eles, deve se submeter às regras internas que eles mesmos criaram. E a primeira ideia foi acionar quem mais lhe devia favores: "Te vira aí, meu chapa, lembra de quem foi que rasgou a lei para te tirar da cadeia e te botar nesse lugar."

Missão dada, missão cumprida. No outro dia, num de seus habituais discursos para militantes levados de ônibus, ele disse que todo pobre deveria ter direito a uma casa com varanda para que, possivelmente depois do almoço, com o bucho cheio de picanha, pudesse fazer pum na varanda.

Você não viu isso por aí? Eu só vi por acaso. É que o diretor do consórcio de imprensa explicou à turminha que isso acabaria por ressaltar o despreparo do sujeito que eles colocaram lá, coisa que ele e seus associados precisavam esconder para não perder verbas publicitárias. Eles que se virassem sozinhos.

E se viraram. Mandaram o tal Grupo Prerrogativas fazer uma live, um deles foi lá e entortou o beiço para ofender ao mesmo tempo um deputado injustamente cassado, os milhares de cidadãos que decidiram ajudá-lo a pagar uma multa ainda mais injusta e os milhões de brasileiros que seguem uma religião.

Isso já teve alguma repercussão, saiu na imprensa, o cassado respondeu pelas redes, muitos usuários discutiram etc. Mas precisava mais e o outro, que estava passeando pela Europa com a família e uma multidão de assessores e seguranças, decidiu aproveitar o que sempre acontece nessas ocasiões.

Na sala de espera do aeroporto, foi só esperar algum brasileiro lembrar em voz alta o que ele fez e dar início ao teatro. Gritaria, empurrões, talvez até um tapa. Foi esse, não foi, foi o outro... Não se sabe bem até agora, pois os italianos não viram nada demais e as imagens das câmaras de segurança não foram solicitadas.

Mas era assim mesmo que o diretor do consórcio disse que tinha que ser. Sem as pessoas terem como julgar o que é verdade ou não, eles podem inventar qualquer coisa e causar um pequeno escândalo. No outro dia eles já param de falar no assunto, mas ação diversionista é desse jeito.

E ainda teve mais uma. Não querendo ficar atrás do Prerrogativas, os Advogados pela Democracia também fizeram uma reunião para que um dos bons companheiros aparecesse e inventasse alguma coisa para chamar a atenção. No caso, uma companheira. Não aquela que cala a boca e faz de conta que morreu, a outra.

Sem se fazer de rogada, ela foi lá e tascou: "A invasão de 8 de janeiro foi igual ao ataque dos japoneses a Pearl Harbor." Só que a declaração quase não gerou notícia. Como explicou o diretor do consórcio, esse tipo de exagero só ressalta o baixo nível intelectual dos membros da casa, pega mal, não dá pra usar.

É isso desnecessário, não precisa tanto. No geral, a manobra foi bem executada. Como disse o diretor: "Pode ver que ninguém mais está falando da confissão inicial que a gente quis esconder."

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