sexta-feira, 2 de junho de 2023

Imprensa de programa

Joaquin Teixeira diria que toda sexta-feira é dia delas, mas hoje é 2 de junho, Dia Internacional da Prostituta. Por aqui poderia se chamar Dia da Garota de Programa, muito embora, dia desses, uma atriz que fez papel de uma destas tenha explicado que existe uma diferença entre as duas coisas.

Prostituta, segundo ela, é a que masca chiclete, fala palavrão e usa maquiagem pesada, cuja entrada barrariam num restaurante de família. Já a outra parece uma garota normal, que você pode inclusive apresentar como sua namorada para a família reunida no restaurante para festejar o aniversário do vovô.

Humm, como muitas namoradas mandam ver por aí, ela não deixa de ter razão. Mas muita profissional do tempo antigo também acabava apresentada à família. Conheci uma que virou o que hoje chamamos de socialite numa cidade do interior e protagonizou uma "história de cinema", título que dei ao texto um pouco mais longo em que a contava.

Ia publicá-lo num sábado, depois no outro, no fim o apaguei. Quando o tio de um amigo confirmou que havia sido até cliente da dama, nós, adolescentes, nunca falamos disso fora do grupinho porque dois filhos dela, um menino e uma menina, eram nossos amigos. O que aconteceu depois deve ter sido doloroso para eles. E como a história seria facilmente reconhecida por quem soube dela, achei melhor não arriscar.

Para compensar a perda dessa pérola da literatura bloguística, conto apenas que depois nós descobrimos que muitos adultos já sabiam e ficavam na sua. Mesmo em cidades do interior, as pessoas de décadas atrás estavam bem acima dos babacas woke que hoje vivem fazendo cara de tia carola escandalizada e apontando o dedo para os "errados".

Mas não podemos deixar o dia passar em branco, temos que homenagear alguém. E eu vou pedir licença à autodenominada "putinha do PT" para estender essa definição. Agradecemos a sua corajosa sinceridade, mas a maior prostituta do Brasil atual é a nossa grande imprensa como um todo.

Pegue só o soco na repórter da Globo. Se a culpa fosse daquele que se recusava a usar (e pagar) seus serviços, a gritaria seria geral. Mas como quem o deu foi um capanga do convidado do chefão, as moças só deram a rápida reclamada de praxe e continuaram rebolando e mascando o chiclete como se nada tivesse acontecido.

Teve até uma mais safada, a japonesa, que chegou a dizer que a porrada parecia coisa do moralista. Depois confessou, gargalhando enquanto retocava a maquiagem, que este nunca a havia ameaçado, mas não quis perder a oportunidade de ferrar o sujeito que cortou boa parte dos seus rendimentos.

As outras apoiaram, lembraram que dentro do possível fazem o mesmo quando se trata da Amazônia, dos yanomamis ou qualquer outra coisa. A vida nas rua é dura, navalha na carne, se elas deixarem os que não as procuram tomarem conta do bairro, quem vai pagar o leite das criancinhas que esperam em casa?

Nisso, uma confessou que às vezes pensa em arrumar um emprego e viver honestamente com o salário contado. As outras, estupefatas, voltaram-se para olhá-la como se fosse um ET. Mas o silêncio foi quebrado por um "meninas, cheguei!" gritado em tom espalhafatoso. Era a tia que entrou na profissão depois de velha e topa de tudo para competir com as novinhas.


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