quinta-feira, 4 de maio de 2023

Bala na agulha

Sabe por que o PL das fake news não foi pautado hoje? Porque aqui nessa Câmara tem uma bancada de deputados conservadores de direita que não vão aceitar a censura neste país. Nós vamos continuar, nós vamos continuar a luta! E não é o STF [aplausos, pausa] - escutem bem! - não é o STF [aplausos, pausa], não será o STF que vai passar pito em deputado pra votar o que eles querem. Aqui nós temos mandato, e nós vamos nos fazer respeitar. Há problemas comerciais entre as big techs e empresas? Estamos dispostos a dialogar para resolver. Mas nos venham querer enganar com história de fake news e se impor... enquanto aqui estamos votando, ministro do STF vai do outro lado pra querer intimidar deputado... isso aqui não vai funcionar! Isso aqui é democracia! Isso aqui é Parlamento! E as instituições democráticas deste país precisam respeitar a independência dos poderes. Quero deixar esse recado claro! Respeitamos o Supremo Tribunal Federal, respeitamos o Executivo, mas não desrespeitem o Parlamento! Obrigado.

As palavras são do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), um dos líderes da bancada evangélica, que, contando quem é para valer, reúne cerca de 25% dos deputados e um pouco menos de senadores. Muitos são pastores e não sei quantas almas eles salvaram, mas sei o que estão salvando aqui na terra mesmo.

Obviamente, eles não podem ganhar todas, não têm número para isso. Na própria luta contra a censura - cuja implantação é uma das taras da gang totalitária do ex-presidiário - eles podem sofrer derrotas. Mas foram fundamentais para derrubar a primeira das muitas palhaçadas que virão por aí.

Não apenas atuaram unidos na Câmara, mas mobilizaram o povo evangélico, que, descontando as ovelhas negras (vermelhas ou indiferentes, neste caso) deve incluir cerca de um quarto da população. Um a cada quatro brasileiros! Não existe outro grupo capaz de fazer nada parecido com isso neste país.

Como calar esses líderes com as prisões arbitrárias e demais táticas hoje utilizadas? Vejam o que diz abertamente alguém como o Malafaia, que não é deputado, mas lidera. Se fosse outro estaria mofando na cadeia. Mas como mexer com ele sem assistir a um levante desse povo?

Censurar totalmente a internet travaria o país e, nesse caso, não resolveria o problema dos candidatos a ditador light, só aumentaria a revolta contra seus abusos. Outra vantagem desse grupo, exclusiva, inigualável, é o contato pessoal distribuído em redes que começam na pequena igreja evangélica da esquina.

Esse mundo coeso e numeroso é, como diz o Sóstenes, conservador e de direita. Esse campo se esfacelaria no Parlamento sem seus representantes. E se esfacelaria nas urnas sem seus votos. A esquerda, ou pelo menos o ex-presidiário, ainda tem nichos que são celeiros de votos. Mas a direita não tem nada parecido com isso.

Isso também significa que qualquer candidato a cargo majoritário que se pretenda de direita deve ser aceito pelos evangélicos. Exceto na fantasia da turminha que confunde realidade com joguinhos de computador, não existe nenhuma chance para uma direita sem excelentes conexões com esse segmento.

A bancada da bala é outra, mas quem tem bala na agulha é a evangélica. E quem for aceito como líder entre os evangélicos em geral.

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