Imagine você com a maior boa vontade, tentando consertar os erros do passado, procurando um emprego de que precisa e para o qual sabe ser qualificado, mas sendo recusado no último instante porque já esteve preso. Injusto, não? Se a tentativa de regeneração é verdadeira, sem dúvida alguma.
Agora imagine que você também precisa do emprego para arrumar sua vida e tudo o mais, mas é recusado na hora decisiva porque nunca esteve na cadeia? Além de injusto, é totalmente absurdo.
Mas é isso que pode acontecer na cidade de São Paulo se o atual prefeito (quem é mesmo?) não vetar uma lei aprovada em duas votações pela maioria dos vereadores e já enviada para a sua sanção.
Segundo a legislação proposta, entre medidas de "apoio aos egressos" que incluem a criação de novos órgãos municipais, a prefeitura deve reservar 2% das vagas de cada novo concurso público para ex-presidiários e só pode contratar empresas que tenham 5% de seus funcionários nessas condições.
- Sinto muito, seu Carlos Alberto - dirá o responsável pelo departamento de pessoal de uma delas -, o senhor sempre foi muito pontual e dedicado, mas nós teremos que substituí-lo por alguém que já esteve em cana porque não podemos perder esse contrato com a prefeitura.
Ou, se o prazo para a adaptação dos atuais fornecedores do município for longo o bastante, o discurso pode ser:
- Nós temos um ano para nos ajustar à legislação, seu Carlos Alberto, e está cheio de crimes que não dão mais que seis meses. O senhor comete um deles, se entrega no dia seguinte e, quando sair da cadeia, terá seu emprego garantido. Sei que parece meio estranho, mas pense na estabilidade futura, no bem-estar de sua família.
O risco, nesse caso, é a Folha manchetear que "Empresas incentivam a falsificação de crimes para burlar a legislação", com um lead como "Escândalo dos falsos crimes nas empresas de bolsonaristas leva promotores a pedirem indiciamento do ex-presidente". Mais um prêmio para a Patrícia Campos Mello.
Também é possível que, ao perceberem que o pessoal só está contratando quem esteve preso por pouco tempo, os vereadores aperfeiçoem a legislação, aumentando a cota e passando a exigir um tanto de vagas para quem pegou mais de dois anos, outro para quem puxou mais de cinco e assim por diante.
Orange is the new black - ser presidiário (e usar laranja) é a nova onda - está por se tornar literal no Brasil. Ou alguém imagina que a moda lançada na Paulicéia não se espalhará país afora como fogo na palha?
Agora é só para os fornecedores da prefeitura, mas logo todas as empresas terão que se adaptar. Os partidos precisarão reservar vagas para os egressos em suas listas de candidatos. Mais à frente, quando a situação se degradar de vez, vão querer até colocar um ex-presidiário na presidência da República.
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