domingo, 5 de março de 2023

Forças ocultas

Existe algum filme que retrata o que estamos vivendo hoje no Brasil? Se pensarmos na parcela do povo que defende a entrega do país a um ex-presidiário , Idiocracia seria um bom candidato. Mas, se considerarmos o que o consórcio midiático-jurídico está fazendo de uns tempos para cá, a melhor opção é Forças Ocultas.

Não conhece? Ouviu falar e nunca viu? Aproveite o domingo chuvoso para assisti-lo inteiro clicando na figura abaixo. É curto, tem uns 50 minutos. É em preto e branco, foi realizado há quase exatamente oitenta anos. É interessante, bem feito. E é francês, mas daquela França ocupada pelos nazistas.

As forças do título são as da grande conspiração judaico-maçônica, das quais você não vê muitos sinais externos (pois elas se ocultam), que pretendem escravizar as nações e devem ser combatidas para que não continuem a perverter as mentes dos que caem em suas pérfidas armadilhas.

Ou seja, mutatis mutandis, temos aqui uma descrição que um Ex-tadão poderia fazer do perigosíssimo bolsonarismo. Você não viu Bolsonaro roubando, matando gays ou tentando censurar a internet, mas ele ocultamente deseja fazer tudo isso e deve ser previamente combatido.

Por quem? No filme, o bravo Alexandre de Moraes que se insurge contra os malvados atende pelo nome de nacional-socialismo. Sim, os nacional-socialistas precisarão tomar medidas enérgicas e até criticáveis, mas - pombas! - há um mundo a salvar, não é o momento de se acovardar.

Além disso, os bondosos nazis do filme não atacaram ninguém, apenas reagiram aos ataques. Do mesmo modo que o STF apenas reagiu aos atos antidemocráticos dos bolsonaristas. Novamente, alterando o que precisa ser alterado, temos aí um discurso que a nossa Foice encamparia sem problema algum.

Não vou dar mais spoiler. Mas a promessa de mostrar os rituais maçônicos "pela primeira vez no cinema" é cumprida pelos ex-maçons que o realizaram. E a comparação com a nossa imprensa não é gratuita. A seleção de fatos para montá-los em tom de documentário (de verdade indiscutível), a pitada emocional, está tudo ali. O Bonner poderia narrar a história sem maior dificuldade. Clique para conferir:

O ator principal, Maurice Remy, continuou atuando depois da guerra e só veio a falecer em 1973, aos 74 anos. E um destino semelhante tiveram, aparentemente, os demais atores e trabalhadores contratados. O que não quer dizer que não tenham se incomodado.

Li um artigo em que o filho do musicista, Jean Martinon, conta que imaginava que sua família estava ligada à Resistência como a tia partisane e o que passou depois que o filme caiu no Youtube. O cara argumenta que o pai precisava cuidar da família e coisa e tal, mas chega a dizer que a vergonha acabará com ele, filho único que não teve filhos.

Já os mandantes foram julgados por colaboração com o inimigo e condenados. O produtor, Robert Muzard, pegou três anos de prisão e depois sumiu (pelo menos da internet), deve ter se dedicado a outra coisa.

O autor, Jean Marquès-Rivière, e o diretor, Jean Mamy, foram os únicos a receber sentença de morte. Rivière à revelia, pois fugiu antes da França. Mamy foi executado em março de 1949. Por coincidência, os dois foram os ex-maçons que revelaram o que haviam jurado manter em segredo, Mamy de grau mais alto que Rivière.

"Coincidência"? Dizem que os juízes que os condenaram era maçons. Dizem, não sei.


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