Em Uganda não tem este negócio de "opção sexual". Se lhe disserem que um cara comeu outro pode ter certeza que isso é naquele sentido do velho Idi Amin, que se divertia mandando cozinhar o prisioneiro político que acabara de matar e convidando os pais do cara para jantar.
Aliás, era Idi Amin Dada, mas o último nome foi retirado para evitar qualquer piadinha de duplo sentido. O que se faz necessário porque a coisa lá anda preta para a turma do arco-íris, as penalidades abundam, qualquer desviadinha da norma e o camarada pode acabar na cadeia.
Ou coisa pior. Manter relações sexuais com alguém do mesmo sexo garante nada menos que pena de morte para quem for soropositivo. Sexo gay com menor de idade? Pena de morte. Mas se o marmanjo se deitar com um maior de idade sem ter doença alguma a punição é mais suave, só prisão perpétua.
E que ele nem pense em se assumir. Quem confessar que é chegado num homossexualismo já pega 10 anos de xilindró. Ah, mas e se ele for uma pessoa trans, que se identifica com outro sexo? 20 anos. Se tocar alguém "com a intenção de cometer ato de homossexualidade" acrescente 10.
Com tudo isso, o gay ugandês normalmente se recolhe. Mas, se acharem que ele é, o sujeito corre um grande risco de não ter acesso a serviços de saúde, ser demitido ou despejado. Não adianta nem se esconder em casa, porque a polícia invade residências particulares em buscas de infratores das leis sexuais.
Isso se der tempo da polícia chegar, pois há casos em que a vizinhança se junta para apedrejar a residência de um suspeito de homossexualismo. O ugandês típico é extremamente conservador e o apoio popular às medidas que agora estão se tornando mais pesadas é enorme.
Radicalismo islâmico? Nada disso, os muçulmanos não chegam a 10% da população, Há um meio por cento de ateus, pouquíssimos seguidores das tais religiões de matriz africana, e uma massa de quase 90% de cristãos, divididos nos dados oficiais quase por igual, entre católicos e anglicanos.
Mas é possível que as pessoas se classifiquem oficialmente pela religião em que foram batizadas e a realidade já seja um pouco diferente, pois o atual furor conservador do país é atribuído por alguns ao trabalho de missionários evangélicos, em geral norte-americanos.
Seja como for, Uganda não é uma exceção. O homossexualismo é ilegal em mais da metade dos 54 países africanos. E nos árabes, e em muitos outros. Se você somar aqueles em que a prática não chega a ser ilegal, mas não é bem vista, é provável que essa seja a norma do mundo.
As bizarrices que atualmente se vê nos países europeus e americanos é que são excepcionais. Não apenas no espaço, mas também no tempo, pois foi só em 1990 que a OMS, sob intensa pressão, oficializou a tolerância que já existia socialmente e deixou de considerar o homossexualismo como doença mental.
Uganda exagera para o outro lado. Mas não é sempre assim? Se puxam demais para cá, logo alguém passa a puxar demais para lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário