sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Como fazer uma pesquisa errrada

O modo mais fácil de fazer uma pesquisa errada é inventá-la. Como ninguém audita o funcionamento interno desses "institutos", nada os impede de escolher as 80 entrevistas que lhes interessam em cada 100 ou apresentar o resultado desejado/encomendado sem realizar entrevista alguma.

A segunda maneira não implica necessariamente em desonestidade. Entre outras possibilidades, o instituto pode segmentar erroneamente seu público (como fazem os que só entrevistam 25% de evangélicos) ou desconsiderar que a abstenção não se distribui por igual entre os sexos e as faixas de renda (como fazem quase todos).

Também é possível induzir a resposta do entrevistado. Todos já viram aqueles programas em que alguém mente para não mostrar uma opinião diferente dos que estão na mesma sala. Ou aqueles em que as moças não tratam do mesmo jeito o rapaz que lhes faz uma pergunta encostado no carro esporte ou no carro velho.

As próprias perguntas permitem obter esses resultados. As respostas dadas a "você concorda que a prefeitura construa um novo museu?" serão diferentes caso antes seja perguntado "você sabe que um novo museu deve custar mais de 30 milhões?" ou "você é um apreciador da arte e da cultura?".

Até o entrevistador pode ser importante. Lá no fim do seu "venha trabalhar conosco" o Datafolha pergunta quem indicou a pessoa para a vaga. Não é demais imaginar que os preferidos são os indicados por gente da casa e são, como estes, egressos de cursos que lhes ensinam que sua missão é defender o socialismo ou coisa parecida. Se nós sairmos por aí apostando em que é governista ou oposicionista pela cara, vamos acertar em boa parte dos casos. Eles podem fazer o mesmo.

Essas coisas funcionam?

Se essas artimanhas fossem inócuas nós não estaríamos falando delas e os foicistas não estariam preocupados em defender suas pesquisas e criticar as que mostram cenários mais compatíveis com o que se vê nas ruas.

Em 2014 eu quase votei na Marina porque as pesquisas diziam que o Aécio não tinha chance alguma. Em 2018 elas diminuíram a pontuação de Bolsonaro em dezenas e mentiram que ele perderia para qualquer um no segundo turno. O número de eleitores que caiu no truque pode ter sido suficiente para impedir sua vitória no primeiro.

Na ocasião, seguindo o modelo de que é preciso agregar mais de um instituto para dar credibilidade ao resultado que se quer apresentar, o esquema era comandado por Datafolha e Ibope, que já tinham um histórico de "errar" para a esquerda que só se agravou com absurdos como a "eleição" de Dilmas e Manoelas.

Agora o Ipobe foi substituído pelo Ipec, que se pretende seu sucessor e mantém a dobradinha com o Datafolha nas pesquisas pagas pela Globo. Será que isso pode funcionar de novo, ainda que parcialmente como em 2018? E será que funcionará para eles, que correm o risco de perder o pouco que ainda têm de credibilidade fora da bolha?

Voltaremos a esse ponto amanhã.


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