"Lá o medo substitui, isto é, paralisa o pensamento. Esse sentimento, quando reina só, pode apenas produzir aparências de civilização. Onde a liberdade falta, faltam a alma e a verdade." Encontrei essa citação numa coluna do Mário Sabino, enquanto procurava uma crítica do seu site à decisão de censurar o Telegram no país.
Mas não se anime muito, o "lá" que eu coloquei por minha conta é na verdade "na Rússia". O pensamento é do Marquês de Custine, que visitou o país há duzentos anos, e o Mário discorria sobre a tendência dos russos para trocar de tirano sem nunca deixar a tirania, um tema inédito para quem tem menos de 15 anos.
De resto, os antas falam da censura como se relata o que aconteceu num jogo de futebol nas páginas secundárias do jornal. Fulano fez dois gols, beltrano foi substituído aos tantos minutos... Se estivessem tratando da descida de uma nova sonda em Marte seriam mais opinativos, mais passionais.
Se a "imprensa alternativa" está assim, imagine a "tradicional". O pessoal está tranquilo, nada da indignação cheia de detalhes que ainda se vê quando um deles recorda que teve uma matéria censurada meio século atrás.
Daria até para dizer que estão felizes. Afinal, se não fossem os Telegrams ainda estaríamos naquele maravilhoso mundo em que ninguém podia se comunicar em grande escala sem passar pelo filtro da patota. E quem mais usa o Telegram é a direita, que para muitos deles deveria ser mesmo calada.
Aqui também temos a vaidade, o fanatismo partidário, o rancor, a mediocridade e o interesse financeiro. Juntando tudo isso, podemos aplicar à quase totalidade da nossa imprensa as palavras do marquês: "Esse sentimento pode apenas produzir aparências de civilização. Onde a liberdade falta, faltam a alma e a verdade."
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